Apodera-se do mundo e perde o céu,
Ao fascinar-se por enganosa riqueza,
Maisquer espelhos a amar a natureza.
Saltitando na Lua celebrou a loucura,
Asfixia o mar para em Marte ir respirar.
O homem bafeja uma grande ignorância
Ao muito falar do que supostamente sabe,
Aparentando bondade maquia a ruindade,
Os miseráveis enaltecem-lhe a piedade,
O contrapeso sustentando a politicagem.
Entre sorrisos pontuais escapa a tristeza,
Duvidando o homem afirma uma certeza.
Ao suplicar por paz denuncia sua guerra,
Adestram seus filhos a vencerem na vida,
Caso não se matem por cobiça desmedida.
Trai a solitude ao flertar com a multidão,
A liberdade é um retrato desbotado,
Dependurado na cela de uma prisão,
E a felicidade é um porto além-mar
Onde almas errantes pensam ancorar.
Ao fazer amor o homem ainda odeia,
No olhar apaixonado o cego devaneia…
Crimes passionais dão ibope nos jornais,
Violência é audiência no reflexo da tevê,
Cidadania à margem da neurose coletiva.
Na dimensão da luz se pode contemplar
A amplitude devastadora da escuridão:
Proclamam Deus e sinceros são os ateus,
O vociferar lancinante traduz-se em surdez,
É mistério calar para ouvir a voz da lucidez.
Quando o amor acontece a contradição esvanece,
Na beatitude ausenta-se no profundo a superfície,
Na saciedade rende-se ao vazio o que estava cheio.
O dualismo cede à verdade no homem que renasce:
Virgem é o que não se dissociou no fruto redentor!
Nota: poesia com registro autoral em nome de Florestan Japiassú Maia Neto.