Hino 2 – Tuperci

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Última atualização em 25 de agosto de 2023.

 

TUPERCI NÃO ME CONHECE

TU NÃO SABES ME APRECIAR

TU NÃO SABES ME COMPREENDER

A MINHA FLOR COR DE JACI (Y)

 

O IDIOMA DE MESTRE IRINEU

N’ O Ramalho, hinário canônico do CICLU-Alto Santo e assinado por Raimundo Gomes da Silva, filho primogênito de Antônio Gomes da Silva, o receptor dialoga com Mestre Irineu no hino 54, 5-6. O Mestre afirma: “Já fazem meio século/Que eu trabalho dentro da luz/Quase vou assassinado/Como assassinaram Jesus”. A seguir, na próxima estrofe (versículo), o discípulo responde: “Os estudos que vós tem/Que o Divino Pai lhe dá/Os mesmos assassinos/Não podem lhe assassinar”. 48 hinos depois, O Ramalho anuncia: “Sigo sempre o meu destino/Falando meu idioma/Só não falo português porque o povo anda na ronda” (102: 3). “Só não falo português” é uma metáfora que significa algo como “não me torno facilmente compreensível”. O Cruzeiro e seus evangelhos complementares possuem inúmeros códigos de uma grande verdade revelada e que por dois mil anos foi muito aguardada. A esse respeito, eis um elo com a Bíblia Hebraica, o cristianismo primitivo e o Novo Testamento: “Hoje, tal pode parecer-nos estranho, mas os cristãos primevos pensavam que o Antigo Testamento – que antecedeu Jesus – também era um texto codificado. Acreditavam que a mensagem real só se tornaria evidente depois do ministério de Jesus. Também Jesus dissimulou em parábolas o seu ensinamento fulcral a respeito do Reino de Deus, o que reforçou a crença dos primeiros cristãos na necessidade de decifrar sentidos ocultos nas Sagradas Escrituras. Por outras palavras, codificar e descodificar faziam parte integrante da teologia cristã primitiva” (JACOBOVICI & WILSON, 2015:24).  O exemplo clássico é o Apocalipse neotestamentário. Segundo o teólogo adventista Arílton Oliveira, “(…) O Apocalipse foi dado em símbolos por causa da perseguição” e “Jesus revelou Suas eternas verdades e os acontecimentos finais por meio de códigos proféticos que hoje nos desafiam” (OLIVEIRA, 2016: 28). Outro motivo para a codificação, mistério da obra de Mestre Irineu, remete a Jesus: “(…) Para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam” (Lc 8:10)! Juramidã, o “novo nome” do Livro do Apocalipse (3, 12), cria um idioma cabalístico para resguardar uma doutrina absolutamente revolucionária. Outra vez, O Ramalho testifica: “Os apóstolos estão chegando/Para vir nos ajudar/Para firmar esta cabala/No mundo material” (110: 3).

Segundo Sebastião Jaccoud, expoente da ortodoxia daimista, Raimundo Gomes da Silva “conhecia os mistérios da cabala” (JACCOUD, 1992: 60-61). Foi o primeiro adepto do Daime a publicar, literalmente, o viés cabalístico da boa-nova de Juramidã.  O Cruzeiro como um todo e suas estranhas palavras, das quais Tuperci é a primeira, fazem parte de uma linguagem criptografada. Esse é um bom motivo para entendermos por que Mestre Irineu vetou o registro de crianças com nomes de entidades ou supostas entidades do Daime. De fato, entre os mais antigos seguidores, não encontramos descendentes registrados com tais nomes. Sagrados demais para serem personificados e vulgarizados por meros pecadores.

Ademais, como bem estudaremos ao longo d’ O Cruzeiro, alguns dos supostos nomes próprios efetivamente não o são, como é o caso de tuperci (hino 02), barum e marum (hino 06, “Papai Paxá”). Além da cabala, acepção “enigmático”, e da cabalá, ciência esotérica dos judeus, particularmente neste hino temos o hipotético uso de uma palavra tupi (Jacy), língua estudada por Mestre Irineu (CARIOCA, 2000: 31). Igualmente o emprego do latim, que contém a chave etimológica de tuperci, uma expressão latina – tu per si (“você por si só”) – aglutinada em uma palavra. Veja o print do Google Tradutor:

 

 

Raimundo Irineu Serra conhecia o latim? Inteligente, curioso, estudioso e autodidata, como relatou-me o contemporâneo Luiz Mendes do Nascimento no que tange o processo de alfabetização de seu mestre, é plausível que tivesse algum conhecimento, considerando que voltará a usar palavras de origem latina como “barum” e “marum” (hino 06). Este, vocábulo latino grafado exatamente como marum, que significa “água do mar” ou “do mar” (MAR-MARUM, 2009). Aquele, vocábulo derivado de base pré-romana denominado barrum, significando “argila, lodo, barro” (BARR-BARRUM, 2009). No primeiro versículo do hino em questão resolve-se o enigma em nível etimológico: “Eu vim beirando a terra (barum)/Eu vim beirando o mar (marum)…” (06: 1). Na interpretação do hino “Papai Paxá”, disponível neste site, aprofundo o estudo no âmbito esotérico. Enfim, tuperci, barum e marum são palavras-código (criptografias) do vernáculo de Juramidã e não entidades.

Dando seguimento à exegese específica de Tuperci, embora diga respeito a um período retroativo se aplicado à trajetória iniciática do jovem Irineu, foi publicado na década de 1930 assim como Papai Paxá (hino 06), segundo depoimento da tutora d’O Cruzeiro, Percília Matos (MAIA NETO, 2003: 21). Época em que as missas eram rezadas exclusivamente em latim com ensino obrigatório nas escolas brasileiras (até 1964), desde quando os jesuítas a implantaram no currículo tão logo chegaram em 1549 (CUNHA SOUSA et al, 2019: 2). É fundamental estar atento à tradição oral desses hinos, “recebidos do astral” por pessoas indoutas. Pergunta-se:  escreveu-se corretamente o que se queria dizer? Interessante descobrir que o verbo “receber” em hebraico é Kibel, de onde deriva a palavra cabalá (GONZALÉZ-WIPPLER, 2006: 9). Segundo o Rabino Chaim Kramer, “A palavra cabalá significa “recebido” e designa um conjunto de conhecimentos que foi recebido profeticamente e transmitido com exatidão de geração a geração” (KRAMER, 2008: 31).  Contudo, muitas vezes a letra é menos importante do que o espírito que nela está encerrado e enigmado: “(…) Pois a letra mata, mas o Espírito comunica a vida” (2 Cor 3: 6). Urge buscarmos compreensão na força do Espírito para que o Verbo se torne vivo – adquira significado – em nós. Como facilitador que é, o Mestre dá uma dica através de uma ciência que é pertinente ao mistério de seu oráculo: a numerologia.

 

TUPERCI, O EGOCENTRISMO E O DUALISMO (HINO 02)

A primeira pista que colhi surge do depoimento de Percília Matos, zeladora d’O Cruzeiro, e disponível na seção História dos Hinos deste site, acerca de Tuperci: “Uns são caboclos e outros somos nós mesmos, né?” (MAIA NETO, 2003: 21). O hino Tuperci é o de número DOIS, justamente porque “você por si só” (egocentrismo) caminha no dualismo – Irineu e suas contradições apartado da santa Unidade (hino UM), que havia lhe concedido um vislumbre extático-iniciático. O hino Lua Branca foi um misericordioso cartão de visitas oferecido pela Mãe Divina àquele jovem que “não conhecia, não apreciava e não compreendia”, pois dentre outras obtusidades, segundo o contemporâneo Luiz Mendes do nascimento confessou-me, duvidou cinco anos da missão recebida – “é ou não é ?; seguir ou não seguir?”. Portanto, quando recebe o primeiro hino, Irineu era pouco consciente da real dimensão de sua missão; inclusive, não muito instruído intelectual e socialmente, usa o pronome “tu” cinco vezes para se dirigir a Virgem (“Tu sois…”). Consequentemente, no hino vindouro, ela responde no mesmo tom: “Tu…per si”. Somente a partir do hino 09, “Mãe Celestial”, recebido aproximadamente 20 anos depois, ele passa a dirigir-se a Virgem usando o pronome “vós”, o que denota um refinamento. Aquele jovem matuto foi iluminando a consciência, a intelectualidade e a educação através de duas décadas de muito esforço na senda do autoconhecimento, realizando o mestre que nele habitava. Em análise cabalística, a unidade de Lua Branca (hino 1) ilumina ao longo da viagem pelo mar (Cruzeiro) da sabedoria (Sophia/Soloína), o dualismo de Tuperci (hino 2).

NOTA: no tratado biográfico Eu Venho de Longe, os autores – os quais reverencio e agradeço a excelência da obra – definem Tuperci como um nome de matriz tupi que significaria “filho de Deus” (MOREIRA & MACRAE, 2011: 137). Entretanto, os autores não referenciam a fonte de onde tiraram tal informação! O que obrigou-me a pesquisar em dicionários de Tupi.  Vali-me do Vocabulário Tupi-Guarani Português, obra do filólogo e professor emérito da USP Francisco Silveira Bueno (1898-1989). Nessa obra, a expressão “filho de Deus, o cristão” é tradução do tupi “tupãrai”. Já a expressão “Filho de Deus, Jesus Cristo” é tradução do tupi “Tupãtaíra”. É amplamente conhecido que “Deus” em tupi é “Tupã” (SILVEIRA BUENO, 1984: 335). De maneira que, democraticamente, vou discordar dos autores da citada biografia de Mestre Irineu.

 

TUPERCI E OS ENSINAMENTOS DE JESUS

Na tradução da Bíblia de Jerusalém, 2002, a doutrina antiegocêntrica: ““(…) O Filho, por si mesmo [tu per si], nada pode fazer…” (Jo 5:19), e “Por mim mesmo nada posso fazer…” (Jo 5: 30). A seguir, a doutrinação do dualismo – a “encruzilhada” da dúvida, contradição, incoerência – através do ensinamento registrado primeiramente no Evangelho de Marcos, que intitulo A Alegoria do Jumentinho de Jerusalém, em que o Mestre (a sabedoria) monta (doutrina) o jumento (a ignorância “tuperciniana”):  “Foram e encontraram o jumentinho amarrado [a mente aprisionada] fora do portão [fora do reino], numa encruzilhada [o dualismo]. Desataram-no [liberaram-no (a) das amarras]. Alguns dos que lá estavam [o povo inconsciente] perguntaram: “- Que estais a desatar o jumentinho?” [não compreensão]. Responderam-lhes conforme Jesus ordenara; e deixaram-no levar. Conduziram o jumentinho a Jesus [a sujeição da mente], cobriram-no com suas vestes [encobriu-a com seu despir-se, o vazio iluminador]; e ele montou [dominou Tuperci, a mente dissonante] (Mc 11, 4-7. Colchetes meus). Salomão também monta um jumento para ser proclamado rei (1 Reis 1:32-40)! Em análise gnóstica, a sabedoria domina a ignorância. Jesus prossegue na matéria tuperciniana, agora instruindo Judas, apelidado de T’ oma,  “gêmeo” em hebraico (STERN, 2008: 293). Trata-se de Tomé, o Apóstolo da Gnose. Em seu Evangelho (dito 98), tradução de Jean-Yves Leloup, o Mestre ensina:

 

“O Reino do Pai

pode ser comparado

a um homem que deseja matar um personagem importante.

Antes, em casa, tira a espada da bainha

e traspassa a parede para saber se sua mão é resistente.

Então, está em condições de matar o personagem importante”.

 

O “personagem importante”; decerto, que se acha importante, é o nosso Tuperci,  cheio de si! Recorro – e recorrerei muitas vezes neste texto – ao auxílio de Emma Jung, consorte do genial psiquiatra e psicoterapeuta, quando aborda os mistérios de Parsifal, o herói do Graal, que estudaremos à frente e que no início de sua busca é visto como um tolo: “(…) Ele ainda não é o cavaleiro que gostaria de ser e do qual mostra, por enquanto, apenas a aparência exterior. Isso corresponde ao que, em psicologia analítica, se denomina persona (máscara). O termo “máscara” indica que não se trata do verdadeiro ser do indivíduo, mas de algo que o encobre e que deveria criar determinada impressão exterior. A persona é, portanto, num certo sentido, uma fachada…” (JUNG, 1980: 44). Nesse dito tomasino,  a “casa” traz o sentido de templo interior, como revela a Epístola aos Hebreus 3: 6: “Esta casa somos nós, se mantivermos a confiança e o motivo altaneiro da esperança”; a “espada” significa o Verbo: “Pois a Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes…” (Hebreus 4, 12). A “parede” a ser transpassada pela força da Palavra é a mente dualista (tuperciniana) que antepara a visão (compreensão) da verdade única.

 

TUPERCI E PARSIFAL, O HERÓI DO GRAAL.

Recomendo a leitura dos textos “Apresentação” e “Lua Branca”, nos quais pincelei alguns traços sobre o assunto. Semelhantemente aos romances medievais de Percival ou Parsifal, O Cruzeiro é uma poesia trovadoresca. Como tal, “As poesias trovadorescas estão reunidas em cantigas, textos em prosa e as chamadas novelas de cavalaria, como A Busca do Santo Graal (AMADO, 2009: 24). Entenda-se “A Busca do Santo Graal” como a perscruta do divino feminino, não só na adoração de uma Virgem celestial, mas como algo muito mais revolucionário à época: o devotamento à mulher de carne e osso, enxergando nela a personificação da Deusa: “Ela, a Senhora Alma, é aquela que os heróis cavalheirescos viram e procuraram através da mulher real” (JUNG: 1980: 106). Milton Nascimento sintetiza lindamente o tema na canção A Feminina Voz do Cantor, do álbum Pietá: “Minha mãe me falou/Minha voz vem da mulher/Minha voz vem de lá, de quem me gerou… Feminino é o dom/Que o leva a entoar/A canção que sua alma sente no ar… Sua voz de trovador/Com seu povo se casou… No seu amor musical/Feminino é o som do seu coração…” (NASCIMENTO, 2003). Veremos à frente, no subtítulo Tuperci e a Flor Cor de Jacy (Lua em tupi), como o nosso herói do Graal, Irineu, ainda não compreende a flor de sua própria alma – a Lua está ligada à alma (JUNG, 1980: 106). Por hora, sigamos na comparação com Parsifal, que encarna o mito do “Imperador e Rei do Graal” (EVOLA, 1978: 213).

Segundo o romance homônimo de Wolfram von Eschenbach, Parsifal “(…) Passa a ser o redentor que expia a velha culpa com uma ação nova”, representando o “papel de Messias” (JUNG, 1980: 209. Grifos da autora). O Graal também é o “Reino do Inconsciente”, o domínio tuperciniano em que o processo de conscientização “tem efeito libertador” (p. 210). Tudo sem a intermediação da Igreja, o que tornou esses romances uma heresia denunciando um movimento rebelde, pois “Perceval representa uma espécie de figura paralela à de Cristo… homem em quem o efeito progressivo do Espírito Santo [feminino] busca se manifestar” (JUNG, 1980: 128). Anota A. R. Schmidt Patier, prefaciador de Parsifal em português, “(….) O Graal já é cristão mas ignora o primado de Pedro, isto é, do Papa” (In: ESCHENBACH, 2015: 23). Não é coincidência, obra do acaso, o Messias Imperial Juramidã, durante 40 anos (1931-1971) de exercício litúrgico ter eliminado o Credo de seu Terço e não ter instituído Trabalho de São Pedro em seu calendário  – isso é muito revolucionário e seu sentido oculto praticamente ignorado no Daime. Wolfram, o trovador templário, “(…) Desenvolve dois temas centrais: a Busca do Graal e a Restauração do Reino” (in: ESCHENBACH, 2015: 25). Em relação ao herói Parsifal, “(…) Sua presença e sua palavra fizeram reflorescer a terra devastada” (p. 25). Pelos desmandos do neurótico e opressor patriarcalismo, intimamente ligado a supressão da herança madalenista – mistérios da Anima – no amor salvador. Na sutileza de Raimundo Irineu Serra e revivendo o Horto de Arimatéia, a fortuna de Magdala está entre as flores do jardim, palavra símbolo da ressurreição (vide interpretação do hino Lua Branca)! Não é sem propósito Juramidã completar sua obra  – autorrealizar-se – com um símbolo essencialmente feminino, “Completei o meu Cruzeiro com 132 flores” (52: 3), fazendo florescer a “terra devastada” com suas doutrinas conscientizadas e reverberadas na força anímica: a palavra “jardim” é grafada 17 vezes em 10 hinos, e a palavra flor ou flores, 18 vezes em 12 hinos com a expressão “jardim de belas flores” aparecendo três vezes no hino Jardineiro (79), pois “No judaísmo, espera-se do Messias que ele introduza os judeus no jardim do Éden” (BÍBLIA, 2015: 2432, NOTA “e”).

NOTA: sobre o Espírito Santo feminino: o patriarcalismo masculinizou-o transformando a palavra hebraica Ruah no spiritus sanctus latino. Segundo o padre e teólogo John MEIER (1992: 221): “(…) A concepção virginal é atribuída de forma específica ao Espírito de Deus (pneuma, palavra neutra em grego que representa rúah, que em geral é feminina no hebraico bíblico)”. Segundo a cabalista Migene GONZÁLEZ – WIPPLER (2006: 39): (…) A palavra hebraica adotada nas Escrituras para denotar espírito é Ruach, um substantivo feminino”. Estudando um texto gnóstico, corrobora o prof. Andrew WELBURN (1991:302): “(…) A Mãe mencionada aqui se refere provavelmente ao Espírito [Santo] de Deus, conhecido na Bíblia e sendo do gênero feminino em hebraico” (Colchete meu). Ademais, temos o símbolo da pomba (e não pombo) trazendo o Espírito no batismo do Jordão (Mt 3: 16; Mc 1: 10; Lc 2:22).

 

Tuperci, o reino do dualismo egocêntrico onde “não se conhece, não se aprecia e não se compreende”, domicilia pessoas que vivem na supracitada “terra devastada”, definida pelo mitólogo Joseph Campbell como ” (…) A terra em que todos vivem uma vida inautêntica, fazendo o que os outros fazem, fazendo o que são mandados a fazer, desprovidos de coragem para uma vida própria” (CAMPBELL, 1990: 206). Inclusive no âmbito mítico-dogmático da tradição patriarcal romana e protestante, em que “(…) A superfície não representa a verdade do que supostamente representaria” (p. 206). Conhecer, apreciar e compreender a Flor Cor de Jaci é a revolução da individuação, a maturidade do Self (Consciência). O que frutifica está na emblemática frase de Jesus dita a Tomé, segundo João 14: 5-6: “Eu Sou: o caminho, a verdade e a vida”. Há um sinal de dois pontos após “Eu Sou”, uma vez que não é o ego humano de Jesus e muito menos as instituições que se arvoram a representá-lo e não raramente caricaturá-lo, que vão lhe salvar (conscientizar), mas o Eu Sou nele e em você, o Self que a Flor Cor de Jaci ensina a realizar. Relembrando as palavras de Jesus reproduzidas pouco acima: “(…) O Filho, por si mesmo [tu per si], nada pode fazer…” (Jo 5:19), e “Por mim mesmo nada posso fazer…” (Jo 5: 30).

Parsifal, no início de sua jornada rumo a realização do Graal, também era um ser tuperciniano, um tolo sem consciência a agir por si mesmo. Segundo André Miele Amado em sua dissertação de mestrado, Graal: O Caminho do Guerreiro, “Este conto tem um caráter instrutivo, pois ensina um bruto a tornar-se um cavalheiro, tal como outros contos cavalheirescos” (AMADO, 2009: 12). Exatamente o que ensina o Daime, o Graal brasileiro, através d’ O Cruzeiro: de Tuperci (a ignorância egocêntrica) ao “formoso batalhão”, hino 96, As Campinas (a sapiência de um ego aplanado, comunizado). O personagem Perceval debuta em Perceval ou O Romance do Graal, escrito no século XII por Chrétien de Troyes, “Considerado o fundador da literatura arturiana e dos romances de cavalaria (TROYES, 2017: 9). Aquele jovem inexperiente, inconsciente de sua missão, de seu verdadeiro Eu, é depreciado como “tolo” (p. 17); de “pouco juízo” (p. 19); “ingênuo e ignorante” (TROYES, 2017: 38). Em Parsifal, de Wolfram: “simplório” (p. 101); “parvo” (p. 106); “criatura bisonha” (p. 112); “impaciente” (ESCHENBACH, 2015: 119). André Miele chama a atenção para uma característica da lenda que está associada à trajetória de Raimundo Irineu Serra, iniciada efetivamente em Tuperci, o arcano zero do tarô, O Tolo: “Este mito também pode ser interpretado como um rito de passagem do jovem para a fase adulta. Ao se tornar um cavaleiro a serviço do Graal” (AMADO: 2009: 12). Como o tarô era considerado heresia pela Igreja, a carta O Tolo ou O Louco foi codificada pelo templário Wolfram von Eschenbach em seu épico romance do século XVIII, ao mencionar que Parsifal trajava “(…) grosseiras botinas de camponês e as vestes de palhaço” sobre a armadura do guerreiro que ainda almejava ser (ESCHENBACH, 2015: 123).

 

TUPERCI E O TOLO DO TARÔ: O ARCANO DA BUSCA

 

 

Quem não conhece, não aprecia e não compreende, iludido por si mesmo (tu per si), por evidente não passa de um tolo. Quanto à roupa de bobo da corte, indica alguém para não se levar a sério.  A carta traz o número 0 (zero), o inicio do percurso rumo ao autoconhecimento; o vazio como potencialidade mais absoluta, de onde tudo surge (PRAMAD, 2011: 79-81). Ele caminha sem saber ao certo onde vai chegar, ignora que é o filho pródigo, pouco racional e mais intuitivo – o cão, através de seu faro, representa a intuição (JUNG, 1980: 189). A busca ruma ao desconhecido, sendo necessário cair no abismo, as profundezas caóticas do inconsciente. A flor branca, a flor da alma, a flor da Anima o acompanha, o inspira e guia nesse processo de conscientização – “Tu não sabes compreender a minha flor cor de Jacy” (Estudo à frente).

O Parsifal do templário Wolfram von Eschenbach tornou-se best-seller medieval. Seis séculos depois inspirou o nume do grande maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão Wilhelm Richard Wagner (1813 – 1883), principalmente conhecido por suas óperas. Em sua última, de título homônimo ao livro de Wolfram, nosso personagem prefigurativo de Tuperci é qualificado brilhantemente como um “tolo inocente iluminado pela compaixão” (WAGNER, 2021: 13). Isso porque,  ainda ignorante,  pergunta: “Quem é o Graal”?” (p.27). Seu mestre Gurnemanz responde: “Isso não pode ser dito; mas se você for chamado a seu serviço, esse conhecimento não permanecerá retido. (…) Nenhum caminho terreno leva a ele, e ninguém poderá percorrê-lo se o próprio Graal não o tivesse guiado” (p. 28). A ideia de “ser chamado” – “Equiôr que me chamaram” (O Cruzeiro, hino 6: 1) –  é inspirado na obra de Wolfram, quando menciona um preceito replantado por Mestre Irineu para o Daime: não oferecer, propagandear ou fazer proselitismo; pois, “Conquistar o Graal é privilégio exclusivo daqueles predestinados a essa missão” e “Nunca homem algum seria capaz de conquistar o Graal a não ser que, para tanto, fosse predestinado pela Providência Divina” (ESCHENBACH, 2015: 298; 469). É o que Juramidã ratifica no hino 113, “Sigo Nesta Verdade”, quando diz seguir “neste caminho para um dia alcançar” (v. 1), “Para seguir o meu destino” (v. 4) até ser recebido pelo “dono de todo império” (v. 5). Pois, em Parsifal, desprezando o papado, “O papel esotérico de grande mediador entre a ordem cósmica e terrena cabia ao rei do Graal, o messias imperial” (ESCHENBACH, 2015; 24).

 

A FLOR COR DE JACI, O FRUTO DA PALMEIRA

Entenda-se a palavra “flor” no sentido figurado: beleza, fineza, o que há de melhor, a flor dentre as águas, Flor das Águas (hino 126). A expressão “cor de Jaci” remete aos frutos dourados da palmeira amazônica Jaci, o “babaçu acreano”. O babaçu é uma palmeira muito comum no Maranhão, estado natal de Mestre Irineu. Veja a foto abaixo.

 

 

O fruto da palmeira:

 

 

O Daime, a “Flor Dourada”, quando preparado segundo as normas clássicas, apresenta cor semelhante:

 

 

Considere-se normas clássicas, as instituídas por Raimundo Irineu Serra, a começar pela lua nova, a lua do feitio; a exclusividade do cipó tipo ourinho; e a formula básica de duas panelas de cipó e folha (que alguns nomeiam como “cozimento”) para uma de Daime. À medida que se vai “dobrando” o Daime, menos “cor de Jaci” e menos Daime vai sendo, embora não deixe de ser Ayahuasca – não está em discussão o mérito de ser “melhor ou pior”.  O Daime é uma fórmula de Ayahuasca, mas nem toda Ayahuasca é Daime. O Daime clássico, apurado por feitor competente, é perfeito: forte e suave, esclarecedor e não confundível, transcendente e não delirante, bonito de se vê e gostoso de beber (tomar, no jargão tradicional). A propósito, o Daime da foto foi preparado pelo meu feitor favorito, o querido amigo Mauro Nunes de Castro (CEFLI) que, levado à casa do Mestre por seu pai, o popular João do Rio Branco, tomou benção ao “Padrinho Irineu” em 1970. Ao 12 anos de idade (1975), acompanhando seu saudoso velho, iniciou-se na “equipe da mata”, cuja missão era encontrar Jagube e Folha. Em 1993, aos 30 anos, foi iniciado nos “mistérios da panela”. Hoje, após muita dedicação e retidão, entrega um Daime de excelência!

 

A FLOR COR DE JACI (DOURADA) E A DOUTRINA TAOÍSTA DA FLOR DE OURO

Aproveitando o ensejo acerca da “Flor Dourada”, abordarei brevemente o mistério taoísta da “Flor de Ouro”. O estudo é baseado na obra de C. G. Jung e R. Wilhelm, intitulada O Segredo da Flor de Ouro: Um Livro de Vida Chinês, especificamente os conteúdos disponíveis entre as páginas 87 a 100 (JUNG & WILHELM, 2013). O livro provém do esoterismo chinês, remontando ao século XVIII; porém, muito antes, seu conteúdo foi repassado oralmente através de gerações. Segundo os autores, “Vale a pena mencionar ainda o fato de que a expressão “flor de ouro’ (Gin Hua) implica, em seu sentido esotérico, a expressão “Luz”” (p. 92).

Em relação ao tema dualismo/unidade que diz respeito a Tuperci, “Eterna é apenas a flor de ouro, que brota da libertação interior de todos os envolvimentos com as coisas. O homem que alcança este estágio ultrapassa seu eu. Não se limita mais à mônada, mas penetra no círculo da dualidade polar de todos os fenômenos e retorna ao Uno, isento de dualidade: o Tao” (p. 98). Complementando a arrematando: “A flor de ouro é a luz. Qual é a cor da luz? Tomemos a flor de ouro como analogia. Esta é a verdadeira força do Grande Uno transcendente” (p. 100).

Reitero a sutileza e profundidade da filosofia de Mestre Irineu que, após Tuperci, do pequeno eu à visão de Deus, começa efetivamente a transcender sua mônada individualista, para muito tempo depois alcançar através da “força do Grande Uno transcendente”, o “‘formoso batalhão” na planície (“campina”) redentora – não existe formosura sem a consciência da igualdade! Tudo é Um, ou na doutrina do grande Advaita (não dois) iogue Ramana Maharshi, que ao ser perguntado “- Como devemos tratar os outros?”, suscintamente respondeu: “Não existem outros”!

 

 

Retornando à última citação do livro chinês, como responder à pergunta “Qual é a cor da luz?” Essa flor de ouro taoísta estaria manifestada no Daime, a Flor Cor de Jaci (dourada) – “O ouro que tem na terra é a luz que brilha mais” (60: 3)? A luz tem a cor do Sol (a Luz per si) e da Lua (a compreensão da Luz): “Deus te salve ó lua branca/Da luz tão prateada…” Sigamos as pistas…

 

A FLOR COR DE JACY, A LUA TUPI

Segundo o filólogo Francisco da Silveira Bueno, citado acima, a palavra Jacy (com y) é de origem tupi e significa “Lua” (SILVEIRA BUENO, 1984: 428). Em termos de grafia, traduz o mesmo significado de “jaci” (com “i”), pois segundo o filólogo, “”Y tem som peculiar. Obtém-se, aproximadamente, o som do y, dispondo os lábios para pronunciar i, mas tentando pronunciar u” (p. 18).  Ou seja, a grafia com “i” é um registro escrito de um entendimento auditivo. Relevante, inclusive por citar o estado natal de Mestre Irineu, reproduzir as palavras do tupinólogo Frederico G. Edelweiss, presentes no parágrafo introdutório do livro acima referenciado: “O Tupi era a língua usada pelos jesuítas em suas catequeses desde o Maranhão até S. Vicente, em São Paulo. Não era língua própria de uma tribo, mas uma uniformização léxica racional de vários dialetos, fixada pela Gramática do Padre Anchieta e pelo vocabulário jesuítico. Foi o tupi o resultado desse esforço normativo para servir a todos os missionários em seus trabalhos e por toda a costa atlântica do norte ao sul, tomando como pontos balizantes o Maranhão e São Paulo” (SILVEIRA BUENO, 1984: 13).

 

A FLOR COR DE JACY, A FLOR DA ALMA

“A grande luz do dia, o Sol, é comparável ao espírito, mas a luz pequena que rege a noite, a Lua, é comparável à alma(JUNG, 1980: 106). Relembrando a introdução da exegese do hino Lua Branca, em que correlacionei o vinho da última ceia ao Daime e a bebida védica Soma, a autora cita a Índia como possível  “Pátria do Graal”, em que a Lua é a este equiparada como “recipiente” (p. 13, nota 14). A alma é o recipiente a conter o mistério. Faz-se mister despertar. O homem que “não conhece, não aparecia e não compreende” é aquele que, apartado da consciência de sua própria alma, não compreende o feminino, sua Anima, reflexo da Alma do Mundo, Alma de Deus, Espírito Santo, a Estrela do Universo do hino Lua Branca (vide interpretação do versículo). A Força, anímica, irá conduzi-lo à integração. No romance do Graal de Chrétien de Troyes, o herói Percival une-se a uma personagem, a deslumbrante donzela Blanchefleur; “flor branca” em francês (TROYES, 2017: 45-66). A mulher que aparece no vislumbre iniciático de Irineu, apresenta-se como Clara (MOREIRA, 2011: 94). O Guerreiro do Graal não pode apartar-se de sua alma. Precisa unificá-la, com consciência, a seu espírito.

 

TUPERCI NÃO ME CONHECE

TU NÃO SABE ME APRECIAR

TU NÃO SABE ME COMPREENDER

A MINHA FLOR COR DE JACY

 

Irineu é chamado à atenção por sua Mãe; pois nas palavras de C. G. Jung, comentando o romance do Graal, é “(…) A figura da Anima que dá à luz o novo Salvador (JUNG, 1980: 187). Emma acrescenta características do novo Messias, prefigurado em Percival ou Parsifal, que se correlacionam à missão messiânica  de Juramidã: “(…) O guardião do Graal é um rei dentro da natureza ou um soberano na esfera natural da alma” (JUNG, 1980: 182). A ilustre psicoterapeuta nos ajuda a entender a psicologia de Irineu nesse momento tuperciniano de vida, extensivo a todos os homens inconscientes da fina flor de suas almas: “A sua atitude unilateral [dualismo corpo/alma] corresponde à identificação com o princípio do logos masculino, que não leva em consideração, de modo suficiente o aspecto do sentimento da Anima nem o conflito e sofrimento que resulta disso…” (JUNG, 1980: 135). Parsifal abandona sua mãe terrena – nunca mais a veria – causando-lhe sofrimento, para dar início a sua busca (ESCHENBACH, 2015: 102-104). Irineu também abandona sua mãe de forma abrupta e nunca mais a vê (BAYER NETO, 1992: 3). Para seguir sua missão, Parsifal abandona sua companheira que estava grávida, o que resultou em numerosos sofrimentos para ambos (ESCHENBACH, 2015: 154-155; 479-481). Ainda em Brasiléia, em 1920, Irineu também abandona sua primeira companheira, Emília Rosa de Amorim “(…) Logo após a morte prematura de sua filha Valcirene, deixando seu filho Valcírio aos cuidados da mãe, e tomou o rumo de Rio Branco” (MOREIRA, 2011: 112). Uso o verbo “abandonar”, pois houve uma forte ruptura – certamente dolorida – entre Irineu, sua companheira e seu filho, que só voltaria a ver seu pai 50 anos depois, aos 53 anos! (MOREIRA, 2011: 405).

Inspirado pela dileta amiga e condiscípula Thálita Vanessa Pinheiro, dirigente do Céu de Magdalah (SP), que está a concluir um artigo sobre o assunto (o Mestre e suas companheiras), pergunta-se: como Irineu trabalhou emocional e psicologicamente essas questões relacionadas com as personificações do feminino em sua vida? Por algum momento ou período, esteve mal resolvido ou culpado em relação a isso? Enquanto “Tuperci”,  que não conhecia, não apreciava e não compreendia a flor de sua própria alma, estaria apto a compreendê-la nas mulheres que o destino colocou em seu caminho se não era capaz em relação a Mulher Universal? Todo homem com apenas o princípio masculino desenvolvido tem visão unidimensional e, conseguinte, não possui a exata medida da justiça – que é harmonia – em relação à contraparte. Acrescenta Emma: “A masculinidade unilateral corre o risco de perder contato com a realidade e tornar-se indiferente, arrogante e tirânica” (JUNG, 1980: 189). O Mestre não nasceu pronto. Seu testamento mostra com clareza. E uma de suas grandes realizações foi curar sua masculinidade, tornando-se mais dócil, maleável, adaptável, receptivo, sensível, acolhedor, cortês e poético, o que se manifesta cabalmente ao longo de seu evangelho: um homenzarrão de 1,98, pés 48 e braços de estivador em meio a seus caboclos e a típica macheza acreana, expressa com delicadeza sua Anima libertada: “A luz, a flor mimosa/Deste jardim perfumoso…” (59: 4); “No jardim, mimosa flor/Para sempre estou aqui…” (90: 1); “Minha flor, minha esperança/Minha rosa do jardim… Fazendo algumas curas/Que minha mãe me ordenou…” (114: 2, 4)…

 

A FLOR COR DE JACY, A FLOR DA COMPAIXÃO.

Do homem que desabrocha a flor de sua alma, nasce um espírito compassivo! Retornado a Richard Wagner e sua clássica ópera, aquele jovem tolo que indaga “Quem é o Graal?”, ainda não compreendia a “Flor Cor de Jacy”, o âmago de sua própria alma e seu elevado sentido de existir: colocar-se no lugar do outro, a compaixão finalmente despertada e conscientizada em Parsifal, quando seu mestre Gurnemanz lhe pergunta: “Mas diga-me, por quem você buscava o caminho(WAGNER, 2021: 65) – na paráfrase de Juramidã: “Perguntei a todo mundo: Por onde vai o caminho?” (94: 1). Parsifal, que não era mais tolo –Tuperci – responde com consciência a seu mestre: “Por aquele cujo lamento profundo uma vez ouvi em tola admiração, para trazer-lhe a salvação, atrevo-me a pensar que fui ordenado” (WAGNER, 2021: 65). Isso porque, quando viu pela primeira vez o Rei do Graal Anfortas com todo sofrimento (causado por uma ferida) e nada perguntou a respeito – por ser indiferente não se disponibilizando a indagá-lo sobre – perpetuou o padecimento do soberano e de seu reino, pois “Um cavaleiro viria e se, tomado de compaixão, perguntasse sobre a triste sina do rei, todas as tribulações terminariam. Mas ninguém poderia adverti-lo sobre a importância da pergunta, caso contrário esta não surtiria efeito” (ESCHENBACH, 2015: 305).

Qual o vínculo com a arguição  “Perguntei a todo mundo: Por onde vai o caminho?”? A chave da compreensão da Flor Cor de Jaci (y), o Daime, o Graal, a Alma do Cristo, é fornecida pelo Mestre Galileu que, após o batismo no Jordão, sai de Nazaré e se domicilia em Cafarnaum, em uma casa à beira-mar (Mt 4: 12-13). Após cumprir uma missão de exorcismo, um tanto fatigado, retornou com seus apóstolos à sua residência e percebeu que não haviam compreendido o que realmente movia seu propósito de vida: “Em casa perguntou-lhes Jesus: “De que vínheis falando pelo caminho? [“Perguntei a todo mundo…”] Calaram-se [“E ninguém me respondeu”]; porque no caminho tinham questionado sobre quem deles seria o maior. Sentou-se Jesus, chamou a si os doze e disse-lhes: Quem pretender ser o primeiro seja o último e o servo de todos” (Mc 9: 33-35). O espírito de compaixão é o de servidão, a maior virtude de guerreiro n’O Caminho – justifica-se a távola do Rei Arthur ser redonda: ninguém detinha proeminência! Servir é estar disponível; é estar desocupado de si mesmo; é montar o jumento da parábola marcana; é matar o “personagem importante” da parábola tomasina; é finalmente doutrinar Tuperci desabrochando lindamente a flor de sua própria alma, exalando o perfume balsâmico do sublime amor franciscano! Amém.

 

 

REFERÊNCIAS:

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JUNG, C. Gustav; WILHELM, Richard. O Segredo da Flor de Ouro: um livro de vida chinês. 15ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013;

JUNG, Emma; FRANZ, Marie-Louise Von. A Lenda do Graal Do Ponto de Vista Psicológico. São Paulo: Cultrix, 1980;

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STERN, David H. Novo Testamento Judaico. 2ª Ed. São Paulo: Vida, 2008;

TROYES, Chrétien de. Perceval ou O Romance do Graal. São Paulo: Polar, 2017;

WAGNER, Richard. Parsifal. 2ª ed. Belo Horizonte (MG): Barbudânia, 2021;

WELBURN, Andrew. As Origens do Cristianismo. São Paulo: Best Seller, 1991.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Respostas de 23

  1. “Quem não conhece, não aprecia e não compreende, iludido por si mesmo (tu per si)”

    Florestan, que esses seus estudos possam nos auxiliar a iluminar nossos pensamentos e desejo de percorrer esse caminho iniciático para o despertar do Ser Divino em cada um de nós.

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