Hino 5 – Refeição

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Antes da refeição:

PAPAI DO CÉU DO CORAÇÃO

QUE HOJE NESTE DIA

É QUEM DÁ O NOSSO PÃO

GRAÇAS A MAMÃE

 

MAMÃE DO CÉU DO CORAÇÃO

QUE HOJE NESTE DIA

É QUEM DÁ O NOSSO PÃO

LOUVADO SEJA DEUS

 

Após a refeição:

PAPAI DO CÉU DO CORAÇÃO

QUE HOJE NESTE DIA

FOI QUEM DEU O NOSSO PÃO

GRAÇAS A MAMÃE

 

MAMÃE DO CÉU DO CORAÇÃO

QUE HOJE NESTE DIA

FOI QUEM DEU O NOSSO PÃO

LOUVADO SEJA DEUS

 

1 – AS RAÍZES JUDAICO-CRISTÃS DO HINO REFEIÇÃO

Última ceia, Jerusalém, quinta-feira santa. Segundo a tradução da Bíblia de Jerusalém, 2002: “Enquanto comiam, ele tomou um pão, abençoou, partiu e lhes deu, dizendo: “Tomai, isto é meu corpo”. Depois, tomou um cálice, rendeu graças, deu a eles, e todos dele beberam. E disse-lhes: “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado em favor de muitos. Em verdade vos digo, já não beberei do fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus. Depois de terem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mc 14:22-26). Jesus reparte o pão, toma o vinho e junto a seus apóstolos cantam “o hino”…

 

1.1 – REFEIÇÃO E A DOUTRINA DA KOINONIA (COMUNHÃO, COMPANHEIRISMO E COMPARTILHAMENTO)

No hino 89, Eu Canto, Eu Digo, após declarar a doutrina da fé (a mística) e a doutrina do amor (a ética) no versículo 2 – “A minha Mãe que me mandou/Trazer fé e amor/Repartir com meus irmãos/Para ser a mesma flor” -, Mestre Irineu finaliza o hino afirmando: “Jesus Cristo me mandou/Para mim vir ensinar/Replantar santas doutrinas/Deus te dá um bom lugar” (89:3). Aqui, grafo “doutrinas”, pois trata-se da fé e do amor citados no versículo precedente. E de forma muito coerente e até sequencial, Juramidã declara no próximo hino de seu evangelho, a doutrina da caridade, que nada mais é do que o amor prático como fruto do voo extático: “Todo mundo é muito bom/Mas não quer se condoer/Se fogem da caridade/E depois não quer sofrer” (90: 2).

Raimundo Irineu Serra vem replantar os ensinos mais primitivos do Mestre galileu, aqueles que existiam antes mesmo de Paulo, apóstolo de segunda geração, aparecer fazendo prevalecer sua visão em doutrinas  – soteriologia (doutrina da salvação) e escatologia (doutrina do “final dos tempos”), por exemplos – que tomam parte do movimento que mais tarde seria denominado cristianismo; assuntos que estudaremos em momento oportuno. Por ora, abordarei o que diz respeito ao hino Refeição e suas origens na revolução social instigada por Jesus de Nazaré, inspirado em seu mestre – assassinado pelo establishment – João Batista: “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo” (Lc 3: 11). Refiro-me a doutrina da Koinonia (comunhão):

“Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. (…) Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades. Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração” (Atos, 2: 44-46).

“O termo “Koinonia” supõe, em primeiro lugar, autêntica comunhão de vida e de bens…” (DICIONÁRIO TEOLÓGICO, 1988: 161). O que significa, segundo o doutor Rinaldo Fabris, em seu tratado Os  Atos dos Apóstolos: “Assim, uma lógica proprietária e patronal é substituída pela da participação e solidariedade” (FABRIS, 1991: 76). Como consequência natural, surge a “fração do pão” ou “partir o pão”, que no ambiente judaico da época, “(…) Significa cumprir o gesto ritual ao inicio da refeição em comum: o pai de família ou o chefe do grupo toma entre as mãos o pão, dá graças a Deus e o parte para distribuí-lo aos comensais. Na linguagem dos Atos, a expressão refere-se a todas as refeições” (op. cit. p. 76). No caso daquela pequena e insipiente comunidade, dividir igualmente o pão baseava-se na ação de Jesus na última ceia, algumas horas antes de se deixar algemar e entregar sua própria carne (pão, verbo encarnado) em oferenda ao verdadeiro amor, sinônimo do verbo partilhar: “O comportamento de Jesus na última ceia foi considerado pelos seus discípulos “como autorização expressa e a mais fundamental, para continuar tornando presente a comunidade à mesa com Jesus, até sua segunda vinda na parúsia (Mc 14, 25; 1 Cor 11, 26)” (DICIONÁRIO TEOLÓGICO, 1988: 162).

NOTA: parúsia: do grego parousia, “chegada, presença” (PARÚSIA, 2009).

 

1.2 – REFEIÇÃO, A ÚLTIMA CEIA E A PROMESSA DO VINHO NOVO NA SEGUNDA VINDA DE JESUS

Por que os autores seletos do Dicionário Teológico O Deus Cristão, citam Mc 14, 25 e 1 Cor 11, 26? São perícopes que aludem à última ceia. Começo pela Primeira Epístola aos Coríntios 11, 26, em que Paulo faz uma exortação baseado em uma informação à qual teve acesso via tradição oral: “Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha”. Essa doutrina tem suas raízes na promessa de Jesus registrada primeiramente em Marcos 14, 25: ‘Em verdade vos digo, já não beberei do fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus”. O doutor Raymond Brown, em uma de suas obras clássicas, Introdução Ao Novo Testamento, retrocede aos essênios quanto à vinda do Senhor em uma refeição sagrada: “Essa expectativa pode ter sido um pano de fundo judeu especial, pois a comunidade dos MMM [Manuscritos do Mar Morto] prefigurava a presença do Messias numa refeição, no final dos tempos(BROWN, 2012: 404. Grifos meus).

A partilha de um mesmo pão para todos os convivas, realizada por Jesus na última ceia, foi uma referência tão fundamental no éthos cristão que, Lucas, um instruído médico de Antioquia, por volta do ano 90 d. C., escreve em seu Evangelho o famoso “Conto  do Caminho de Emaús”, repleto de simbolismo (Lc 24: 13-32). Dois discípulos andam lado a lado com Jesus por um longo tempo e não o reconhecem. Só o fazem quando o pão é partido no jantar na aldeia onde residiam. O Jesus ressurrecto é reconhecido por uma ação da derradeira refeição em Jerusalém. Em outras palavras, o Mestre se torna presente (vivo) na consciência dos discípulos através da partilha do alimento! O que está em jogo não é a autenticidade histórica da perícope, mas o seu conteúdo pedagógico. Sim, o público greco-romano para o qual Lucas escrevia há quase dois mil anos,  segundo acrescenta com muita propriedade, o teólogo e filósofo Hélio Soares do Amaral, “(…) Não distinguia o ordinário do extraordinário, a religião da filosofia. (…) O homem antigo podia imergir no extraordinário e nisto consistia a sabedoria” (AMARAL, 2006: 14). Reza Aslan corrobora: “Os leitores do Evangelho de Lucas, como a maioria das pessoas do mundo antigo, não faziam uma distinção nítida entre mito e realidade; os dois estavam intimamente ligados em sua experiência espiritual. (…) Teria sido perfeitamente normal – na verdade, era o que se esperava – que um escritor do mundo antigo narrasse contos de deuses e heróis cujos fatos fundamentais eram reconhecidos como irreais, mas cuja mensagem subjacente seria vista como verdadeira (ASLAN 2013: 56).

É importantíssimo entender esse contexto em que os Evangelhos foram escritos para que possamos penetrar com mais agudeza no real sentido de suas mensagens, usando devidamente o filtro da demitologização, programa hermenêutico defendido pelo revolucionário e censurado teólogo luterano Rudolf Bultmann, ao lançar em 1941 o livro Novo Testamento e Mitologia, propondo concomitantemente uma interpretação existencialista das Escrituras neotestamentárias – confiram os livros Demitologização: Coletânea de Ensaios (BULTMANN, 1999) e Jesus Cristo E Mitologia (BULTMANN, 2008).

 

1.3 – O “MILAGRE” DA MULTIPLICAÇÃO: JESUS E A SOCIALIZAÇÃO DO PÃO

Com essa nova visão, desprogramando-se do fundamentalismo bíblico que erroneamente concebe a literalidade de uma suposta historicidade como a única forma de entender os milagres de Jesus, aproximamo-nos do real entendimento das mensagens. No tema proposto e abordado, a partilha do pão, o símbolo está didaticamente representado no mito da multiplicação dos pães e dos peixes para uma multidão de famintos, presente em Mateus 14, 13-21; Marcos 6: 30-44; Lucas 9, 10-17 e João 6, 1-15. Os cristãos maravilham-se com o “milagre”, mas não compreendem ou não querem compreender o significado ético. Dessa forma, o milagre nada vale, nada soma, nada constrói de forma prática nesta sociedade egoísta em que vivemos. Jesus é idolatrado como um super-herói por aqueles que, na verdade, são os próprios vilões do sistema que explora, segrega e mata por inanição a alma da piedade cristã no último suspiro de algum desvalido.

A quintessência desse famosíssimo prodígio neotestamentário, em relação ao ato de justiça social que representa a ação de multiplicar o pão, está contido entre os versículos 35 e 42 de Marcos 6.  Recordando: os apóstolos só possuíam cinco pães e dois peixes (v. 38) – uma ninharia. Então, eles propõem ao Mestre: “Despede-os [a “multidão”] para que vão aos campos e povoados vizinhos e comprem para si o que comer” (v. 36). Em outras palavras, francamente, eles estavam dizendo a Jesus: “- Manda esse pessoal se virar pra lá, porque o que a gente tem é muito pouco!”. Mas Jesus sendo Jesus, responde em econômicas e contundentes palavras: “Dai-lhes vós mesmo de comer” (v. 37). O que o Mestre ordena é que se dê do pouco que se tem e não daquilo que nos sobra! Quem se habilita?

Como os apóstolos, via de regra, não temos tamanha capacidade altruística por nos faltar amor. Então acontece a magia deste fascinante enredo: “Tomando os cinco pães e os dois peixes elevou os olhos ao céu, abençoou, partiu os pães e deu-os aos discípulos para que lhos distribuíssem. E repartiu também os dois peixes entre todos. Todos comeram e ficaram saciados” (v. 41 e 42). Marcos é qualificado pelo professor de Oxford, Andrew Welburn, como o Evangelho das “epifanias secretas(WELBURN, 1991: 12). O que o autor de Marcos, o primeiro Evangelho escrito na ordem cronológica, quer nos informar? A célebre manifestação reveladora (epifania) de Jesus que acabamos de rememorar guarda semelhança com o ritual da última ceia: “Enquanto comiam, ele tomou um pão, abençoou, partiu-o e lhes deu: “Tomai, isto é o meu corpo” (Mc 14: 22). O coautor do prestigiado Novo Comentário Bíblico São Jerônimo, Daniel J. Harrington, esclarece: “A semelhança fraseológica entre 6, 41 [Marcos] e 14, 22 (na última ceia) indica que esta refeição no deserto foi entendida como uma antecipação da eucaristia (que, por sua vez, antecipa o banquete messiânico)” (HARRINGTON, 2018: 93).

Novamente a questão do banquete messiânico, escatológico, a refeição sagrada dos “últimos dias” em que seu Messias retine com alegria em um português “galileu” (indouto): “A terra aonde estou/Ninguém acreditou/Dai-me amor, dai-me amor/Dai-me o pão do Criador…” (O Cruzeiro, 42: 1). O amor é o pão miraculoso que nos ensina a dar quando aparentemente nada há para compartilhar! Na sinagoga de Cafarnaum, cidade às margens do Mar da Galiléia onde era domiciliado, disse Jesus: “Porque o pão de Deus [o amor] é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo… Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome” (Jo  6: 33-35).

Esse foi o “pão” que saciou os “cinco mil” que estavam junto a Jesus e seus apóstolos em um lugar deserto, segundo Marcos 6, 32.  O número “cinco mil” não é literal. São aqueles que seguiram Jesus e os apóstolos e adentraram no deserto (sagrada ermida) para receber a quinta-essência da doutrina – o “cinco” transcende o quatro, “(…)  Número imediatamente relacionado ao mundo material” (LIBERATO, 2005: 17). A autora acrescenta (p. 18): “Simboliza a revolução sem a qual a transformação e a evolução não seriam possíveis”. Partilhar é revolucionar em um mundo onde concentrar era e é a palavra de ordem. Essa foi a revolução social de Jesus denunciando os burocratas da fé –  mais eucaristia e menos hipocrisia.  Porque foi no mesmo Monte onde nos ensinou a partilha do pão, no Pai-nosso, que o Mestre vaticinou em seu magnifico Sermão: apenas serão indelevelmente saciados, bem-aventurados e felizes, aqueles que tem fome e sede de justiça, e misericórdia abundante no coração (Mt 5: 6-7).

 

1.4 – JESUS E A DOUTRINA DA COMENSALIDADE

Os especialistas em “Jesus histórico”, Marcus Borg e J. D. Crossan esclarecem: “(…) Compartilhar as refeições era uma das características mais distintas da atividade pública de Jesus. Ele costuma ensinar durante as refeições, banquetes eram assuntos de suas parábolas, e sua prática de refeições costumava se criticada pelos opositores. (…) A questão é que Jesus come com indesejáveis, marginalizados e párias… A prática de refeições adotada por Jesus tinha a ver com a inclusão em uma sociedade que possuía nítidas fronteiras sociais. (…) Para Jesus, a comida de verdade – o pão – tinha importância. Em seus ensinamentos, o “pão” simbolizava a base material da existência. (…) Para a plateia camponesa de Jesus, o pão – comida suficiente para o dia – era uma das duas questões centrais de sobrevivência (a outra era a dívida)” (BORG & CROSSAN, 2006: 144-145).

 

1.5 – JESUS E AS REFEIÇÕES: A OPORTUNIDADE DE SER IGUAL NAS DIFERENÇAS

Antes de estudarmos, no próximo subtítulo, a estreita relação entre pão e dívida, frisemos o que os autores nos revelam: “(…) Jesus come com indesejáveis, marginalizados e párias…”. Segundo Mateus 11, 19, o próprio Jesus testemunha: “Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘Eis aí um glutão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores’…”. O doutor Isidoro Mazzarolo acrescenta entendimento: “Comer e beber foram, ao longo de toda a sua missão, um jeito de romper com protocolos, preconceitos e barreiras criadas pelas estruturas. À mesa, Jesus aproxima a todos…” (MAZZAROLO, 2006: 128). E arremata: “É à mesa, sentados face a face, comendo e bebendo, que muitas barreiras vão caindo, que muitos diálogos reabrem as portas da reconciliação… É nesta “política” da refeição ou do banquete que Jesus vai entrando, antes nas casas e depois nos corações…” (p. 130).

 

1.6 – AS CONTÍGUAS PETIÇOES: “O PÃO NOSSO DE CADA DIA” E “PERDOAI AS NOSSAS DÍVIDAS”

“Papai do céu do coração/Que hoje neste dia/É quem dá o nosso pão…”

 

A oração do Pai-nosso, na qual tomam parte a quarta e a quinta petição, respectivamente a do “pão” e a da “dívida”, foi descontextualizada. Uso a referência mais antiga dessa oração, que é a versão mateana (6, 9-13),  à qual o doutor Flávio Henrique de Oliveira Silva em seu artigo O Pão Nosso De Cada Dia Dá-nos Hoje: Observações À Luz Do Evangelho De Mateus, chama atenção para algo fundamental: o Pai-nosso era originalmente uma oração comunitária (“nosso Pai”) e, portanto, não dissociada dos problemas comunitários, o que incluía como salientou o texto de Borg e Crossan, a dívida – fruto da exploração cruel do Império Romano – que empobrecia e oprimia o povo que Jesus representava e defendia.  O teólogo Paulo Lockmann, citado por Flávio, é certeiro acerca do caráter comunitário da principal oração cristã: “(…) Esse fato deveria nos levar a refletir a respeito de nosso distanciamento, conceitual e prático, em relação ao modelo de oração da Igreja primitiva”. Isto é, fomos “arrancados de uma tradição bíblica de piedade que gera compromisso comunitário e transformação para uma experiência de oração que é individualista e profundamente desligada dos problemas da comunidade” (SILVA, 2018: 78).

Como bem analisa o doutor Júlio Paulo Tavares Montovani Zabatiero, em relação as causas dessa pobreza que gerava fome entre muitos convivas de Jesus e porque não dizer entre os de Mestre Irineu, que consagraram o hino Refeição desde a década de 1930: “A fome não é uma questão de falta de alimento, mas de injustiça e opressão, da falta de políticas públicas de combate à fome e à miséria causadas pelo sistema capitalista. Vivemos sob um novo tipo de imperialismo: o imperialismo da ideologia única, do pensamento único, da afirmação de que somente o capitalismo, e em sua forma neoliberal globalizadora, é capaz de organizar adequadamente a vida humana e constituir sociedades prósperas” (ZABATIERO, 2018: 43). O doutor Ildo Perondi completa através de seu ótimo artigo As Refeições de Jesus em Lucas: “O Evangelho nos motiva a denunciar o sistema que acumula e exclui e, ao mesmo tempo, construir uma sociedade onde haja partilha do alimento para que todos possam ser saciados” (PERONDI, 2018: 85).

O doutor Flávio Henrique de Oliveira Silva, citado acima, após um exame criterioso do Evangelho de Mateus, chega às seguintes conclusões contextuais acerca do “pão nosso” presente no Pai-nosso: “A sede pela ampliação de divisas [do Império], aliada à necessidade em atender as demandas dos centros urbanos, provocaram a exploração extrema do campo obrigando os camponeses falidos a mendigarem o pão nos grandes centros. (…) No pedido pelo pão, uma postura de resistência frente aos mecanismos causadores da fome, e o desafio de chamá-lo de nosso ao sociabilizá-lo com os famintos” (SILVA, 2018: 71).

 

1.7 – “PERDOAI AS NOSSAS DÍVIDAS” – QUE DÍVIDAS?

Inicio com nosso ilustre teólogo doutor Leonardo Boff, que cita entre parênteses a palavra aramaica para dívidas: “Mateus utiliza “dividas”, uma expressão tirada do mundo dos negócios (hobâ = dívidas financeiras), mas que, com o tempo, foi assumindo um colorido como sinônimo de ofensa…” (BOFF, 2013: 134-135). E complemento com o casal de doutores Haroldo e Ivone Reimer, ambos pós-graduados na tradicionalíssima escola alemã de teologia : “Quais são as dívidas que devem ser perdoadas? Algumas traduções e usos litúrgicos amenizam e distorcem o significado original, quando rezam: “…perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós também perdoamos a quem nos tem ofendido”. Essa tradução foi adotada por algumas igrejas na década de 70. Objetiva-se de maneira clara restringir historicamente o perdão a um nível de moral eclesiástica” (REIMER & REIMER, 1999: 129). Torna-se claro que Mateus, sendo o “Evangelho da Justiça Social” (veremos à frente o porquê), está se referindo à dívida financeira que, segundo os autores, “(…) Faz parte de uma tradição bíblica que quer superar as relações humanas de dependência. Escravidão, perda de terra, desintegração familiar, fome e doença são estágios de um processo de empobrecimento que se origina de endividamentos” (p. 130). A realidade presenciada por Jesus era extremamente cruel para o povo pobre, esquálido e marginalizado, que nele encontrava representatividade em sua altiva voz. E ele não se calou! Assumiu os riscos e consequências: “(…) Para a classe dominante, que se beneficiava com a situação de opressão, Jesus era apenas um agitador, um revolucionário, um inimigo do sistema que precisava ser silenciado, eliminado” (OLIVEIRA, 2016: 11-12).

Mas se o contexto mateano traz “divida” como sinônimo de endividamento financeiro, seria possível ampliar o sentido para “ofensas”? Sim, embora, repito, não seja a temática social de Mateus, posto que a petição pelo perdão das dívidas surge imediatamente após o pedido pelo pão – quanto mais endividado menos alimentado! Porém, ampliando o leque exegético, temos que a palavra aramaica hobâ citada por Boff, “(…) Tem três significados básicos e interligados: o empréstimo que deve ser devolvido (a dívida), o compromisso moral perante pessoas e o pecado diante de Deus e das pessoas” (REIMER & REIMER, 1999: 129). A partir daí, Lucas, aproximadamente 10 anos após Mateus, em outro contexto, menos judaizante e mais gentio, traduz: “Perdoa-nos nossos pecados…” (Lc 11, 4). Leonardo Boff traz mais compreensão ao sintonizar “pecado” à “ofensa”, variação bem mais tardia propagada pela Igreja: “(…) A palavra ofensa, por sua vez, acentua a natureza pessoal do pecado que, como vimos, não implica apenas a violação de uma norma, mas a quebra do relacionamento interpessoal, envolvendo Deus, presente em cada pessoa e em cada relação humana” (BOFF, 2013: 135).

Finalizo o subtítulo estudado, refletindo: a única possibilidade de não devermos nada a ninguém e nem sermos credores de ninguém, perante o sentido primordial de Mateus, seria a de uma sonhada utopia: uma sociedade perfeita em que todos desfrutassem igualitariamente de bens comuns onde não haveria senhores nem servos, patrões nem empregados, credores nem endividados. Seria esse o Reino proposto por essa alma singularmente iluminada chamada Jesus e anunciado por Juramidã? Na voz do saudoso e ilustre Francisco Granjeiro Filho, o comandante do feitio de Mestre Irineu:

 

A MORADA DO MEU PAI

PARA MIM É UM PRIMOR

AQUI NÃO EXISTE ESCRAVO

E NEM UM DO OUTRO É SENHOR

 

AS FORTUNAS SÃO IGUAIS

TODOS TEM UMA SÓ COR

E PARA O DONO DAQUI

DINHEIRO NÃO TEM VALOR

 

ISSO EU DIGO PARA TI

E TU CANTAR PARA OS TEUS IRMÃOS

QUE A MORADA DO MEU PAI

É PARA TODOS OS SEUS IRMÃOS

(O Apuro, 17, A Morada do Meu Pai)

Ouça: https://nossairmandade.com/hymn/1840/AMoradaDoMeuPai

 

1.8 – “O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE, SENHOR” COMO SUBVERSÃO AO IMPERIALISMO

“Papai do céu do coração/Que hoje neste dia/É quem dá o nosso pão…”

 

Reitero: para que haja uma compressão mais realista dos Evangelhos é  imperativo contextualizá-los. A oração do Pai-nosso na qual a petição do “pão nosso” está contida, é publicada pela primeira vez no Evangelho atribuído a Mateus, datado segundo especialistas para os anos 80-90 d.C. (BROWN, 2012: 262).  Assim, a mensagem comunial de Mateus começa a ganhar força nos territórios ocupados e explorados por Roma quando um dos mais cruéis e deslumbrados soberanos ocupava o trono. Trata-se de Domiciano, oitavo imperador que governou entre 81 e 96 d. C. (TABOR, 2006: 332). Domiciano era filho de outro déspota, o imperador Vespasiano, sexto imperador que governou entre 69 e 79 d. C. Vespasiano, antes de se tornar suserano, foi um general de confiança de Nero, aquele que dentre outras atrocidades, mandou matar a própria mãe. No governo de Vespasiano, sob o comando de seu filho Tito, Roma retomou a Judeia em 70 d. C., evento que ficou conhecido como Primeira Revolta Judaica (66 – 70 d. C.), quando os judeus capitaneados pelos zelotes, os insanamente corajosos guerreiros libertários da Judeia, que tinham representatividade entre os apóstolos de Jesus com Simão, o zelota (Mc 3, 18), retomaram o controle territorial e político da nação das mãos do “(…) Maior império que o mundo já conheceu” (ASLAN, 2013: 70-93).

Com a consciência muito tranquila do dever cumprido, deixando um rastro de milhares de mortos, entre os quais mulheres, crianças e idosos, e com Jerusalém destruída e tingida pelas cinzas das chamas que a fustigaram por dias intermináveis, “O ponto de Vespasiano era bem claro: esta tinha sido uma vitória não sobre um povo, mas sobre o seu deus. (…) Tito apresentou publicamente a destruição de Jerusalém como um ato de piedade e uma oferenda aos deuses romanos. (…) Extraordinariamente, Vespasiano decidiu renunciar à pratica habitual do evocatio, pela qual um inimigo vencido tinha a opção de adorar o seu deus em Roma. (…) Daí em diante, o judaísmo não seria mais considerado um culto respeitável. Os judeus eram agora o eterno inimigo de Roma” (ASLAN, 2013: 91).

Domiciano, que sucedeu seu irmão Tito, foi mais longe: (…) Queria que as pessoas se dirigissem a ele como dominus et deus noster (Nosso Senhor e Deus)” (GUTHRIE, 2014: 206). Promovendo a famosa política romana de “pão e circo”, que ecoa como crítica social na Música Popular Brasileira, através das pérolas Panis Et Circensis, de Caetano e Gil; Deus lhe Pague de Chico Buarque e Pão e Água de Lô Borges, “(…) Domiciano promovia a sua imagem e, uma vez que o pão era a base da vida, distribuí-lo às massas significava mantê-los satisfeitos e, portanto, dependentes. Quando faltava o pão, o circo servia para distrair o povo de uma eventual revolta” (CROSBY, 2004: 186). O escritor, teólogo e padre franciscano arremata, voltando nossa atenção para o cerne do tema abordado: “Pedir o pão ao “Pai” de Jesus, o intermediário por excelência de todos os patrões e clientes, significava colocar todo o sistema imperial em questão” (p. 187)!

 

1.9 – “O PÃO NOSSO DE CADA DIA”, O REINO DE DEUS E A JUSTIÇA SOCIAL

“Papai do céu do coração/Que hoje neste dia/É quem dá o nosso pão…”

 

O sistema imperial que, no tempo do ministério de Jesus, estando sob o governo de Tibério, implementava o que cinquenta anos mais tarde o Evangelho de Mateus denunciaria – como veremos adiante – ao empregar a palavra-chave “justiça”: “(…) A oração do Pai-nosso, quando lida a partir daquela realidade, indica que o Senhor não estava alheio à história… O pedido pelo pão de cada dia, portanto, é parte (1) do apelo à prática da justiça concretizado em gestos de solidariedade e no compromisso comunitário de partilhar o pão que deve ser “nosso”; (2) de um discurso de resistência contra os poderes estabelecidos que nega o pão e insiste em provocar a fome” (SILVA, 2018: 72-73).

Mateus é o Evangelho da doutrina da justiça, em que este vocábulo aparece mais vezes. Segundo a detalhadíssima e competente tese de doutorado do teólogo Arthur Francisco Juliatti dos Santos, intitulada O Ensinamento Sobre A Justiça Em Mateus, Uma Interpretação Exegético Teológica, a palavra/conceito justiça aparece sete vezes na boa-nova mateana. Segundo o autor, em uma síntese introdutória: “Da justiça se tem fome e sede (5, 6), por ela se é perseguido (5, 10) e deve superar a dos escribas e fariseus (5, 20). As exortações imperativas de 6, 1-33, mostram que a intenção garante a recompensa (6, 1) e que sua primazia, juntamente com o reino é essencial (6, 33). Jesus deve cumprir toda a justiça (3, 15), levando a plenitude o caminho na justiça no qual vieram os profetas e, finalmente, João Batista…” (DOS SANTOS: 2011: 11). Chegamos ao cabeça do movimento!

Apesar da tentativa desonesta de alguns autores do Novo Testamento, de despistar a relação mestre-discípulo entre Jesus e João Batista, ocultando seu nome e pondo palavras em sua boca, Juramidã, no colossal hino São João, restitui a verdade dos fatos: “Pregando a santa doutrina/O amor ele empregou/Atrás dele veio Jesus/Toda verdade afirmou” (66, 2). Ora, se Jesus veio atrás, significa que João veio na frente e estava à frente. Sim, o discípulo segue os passos de seu mestre afirmando “toda” (integralmente) a sua verdade! Foi com João que Jesus aprendeu o beabá da revolução social, sem a qual não há como estabelecer a justiça embutida em “nosso pão”: “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo” (Lc 3: 11). Esse comunismo, essênio por natureza, era a justiça defendida por Jesus, quando após proferir a petição do pão nosso no Pai-nosso (Mt 6, 11), exorta a não ajuntar tesouros na terra (6, 19), deixa bem claro que não se pode servir a Deus e ao dinheiro (6, 24), e coloca como condição a um jovem rico desejoso de segui-lo (ele não o faz!), que doasse sua riqueza aos pobres (19, 21); em Lucas 10, 35 exorta que o dinheiro deve estar a serviço da caridade, e quando emprestado não se deve esperar recebê-lo de volta (Lc 6, 30-34). E, novamente em Mateus, 6: 31-33, codifica uma mensagem revolucionária a uma plebe faminta e maltrapilha em decorrência da exploração política e econômica romana: “Que iremos comer? Ou, que iremos beber? Ou, que iremos vestir? [pergunta o povo]” (V. 31)

Tendo referenciado à turba o despojamento, a humildade e a caridade de seu mestre João, ao perguntar e incitar em Lc 7, 24-25, “Que fostes ver no deserto? (…) Um homem vestido com vestes finas? Ora, os que usam vestes suntuosas e vivem em delícias estão nos palácios reais”, a solução é dada aos párias no versículo 33: “Buscai, em primeiro lugar, seu Reino [de Deus] e sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”. Jesus não estava idiotizando a massa ao fazê-la acreditar que “as coisas” básicas para a sobrevivência cairiam do céu. Estava, sim, exortando o povo a fazerem a revolução social (justiça), ou seja, como vimos nas exortações arroladas no último parágrafo, ao comunizarem – nos moldes essênios – seus bens, “todas as coisas seriam acrescentadas”, pois assim há equalização entre quem tem mais e quem tem menos. Não se trata de esperar milagre de Deus, mas de puro espírito de fraternidade! Comentando o versículo 33, Benedict T. Viviano, coautor do Comentário Bíblico São Jerônimo, é taxativo: “Em Mateus, buscar o reino e buscar a justiça não são duas buscas distintas… A justiça visada não é só uma justiça em Deus, mas uma justiça que nós mesmos devemos produzir na terra (VIVIANO, 2018: 162). A busca por essa justiça integral, denunciando toda iniquidade, foi a verdadeira causa do assassinato de João Batista, para além da distração que é a historinha da dança infame de Salomé (Mc 6: 22).

O doutor James Tabor, pesquisando os escritos do historiador do primeiro século Flávio Josefo, fornece uma pista segura acerca do real motivo da morte de João: “Josefo nos diz que Herodes mandara prender João Batista, temendo que sua popularidade provocasse uma rebelião…” (TABOR, 2006: 187). Ao sustentar a bandeira de seu amado mestre, a provável intentona poderia ser iminente com Jesus, a ponto do caviloso Caifaz anunciar: “Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?” (Jo 11: 50), pois segundo os pares de Caifaz reunidos no ninho de cobras chamado Sinédrio: “Se o deixarmos assim [Jesus], todos creram nele e os romanos virão, destruindo o nosso lugar santo e a nação” (Jo 11: 48).

Mestre Irineu é claríssimo quando proclama, em seu hino 66, São João, que Jesus afirmou toda a verdade de seu mestre João Batista, o que incluía a execução da plataforma política e social de denunciar – como em parte vimos acima, dissecando os Evangelhos – a ostentação da classe dominante (Lc 7, 24-25), a rapinagem dos soldados romanos (Lc 3, 14) e dos cobradores de impostos conhecidos por publicanos (Lc 3, 12-13), promovendo a consciência da partilha dos bens e da comida à plebe indouta, que tinha “fome e sede de justiça” (Mt 5, 6), – capacidade de indignação! -,  porque padecia em sua carestia mesmo habitando o paraíso fértil e bucólico que era a Galiléia, especialmente as terras ao redor de seu mar. No retrato do historiador Michael Haag: “Plantas tão diversas como nozes e palmeiras, figos e azeitonas, tudo florescia ali. (…) Josefo, que foi governador militar da Galiléia uma geração após a morte de Jesus, conhecia bem o país. ‘Toda área é excelente para o plantio e gado e rica em florestas de todos os tipos, de modo que sua adaptabilidade convida mesmo aqueles menos inclinados a trabalhar na terra. Consequentemente, cada centímetro é cultivado pelos habitantes e nem um canto é desperdiçado…’” (HAAG, 2018: 42-43).

Entretanto, infelizmente, segundo o doutor Reza Aslan, mestre em Estudos Teológicos pela bicentenária Harvard Divinity School, a crudelíssima realidade era esta: “As pequenas chácaras familiares que durante séculos tinham servido como a principal base de economia rural foram gradualmente engolidas pelas grandes propriedades administradas por aristocracias, sob o brilho de recém-cunhadas moedas romanas. (…) A agricultura que tinha sustentado as parcas populações das vilas estava agora quase totalmente voltada para alimentar os inchados centros urbanos, deixando os camponeses rurais na fome e na miséria. O campesinato não só era obrigado a continuar pagando seus impostos e dízimos para o sacerdócio do Templo, como era forçado a pagar um pesado tributo a Roma” (ASLAN, 2013: 43).

Mas os galileus não eram somente vítimas de opressão econômica. Sofriam, como “povo da terra”, o desprezo e o escárnio da nata social judaica: “A elite urbana da Judeia referia-se aos galileus ironicamente como “povo da terra”, um termo usado para indicar sua dependência da agricultura de subsistência. Mas a expressão tinha uma conotação mais sinistra, indicando os ignorantes e ímpios que não cumpriam corretamente a Lei, em especial quando se tratava de pagar os dízimos obrigatórios e fazer as ofertas para o Templo” (ASLAN, 2013: 115). Em Mateus 15, 1-2, o “Evangelho da Justiça” denuncia o conservadorismo tacanho e o preconceito segregante que lhe é peculiar, legando-nos um panorama daquela realidade: ““Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos antes de comer pão”” – os versículos revelam a “rudeza” dos galileus. E João 7, 49 retrata bem a marginalização e o escracho dos representantes de Deus e da família tradicional judaica em relação aos galileus: “Mais este povo, que não conhece a Lei, são uns malditos!”.

Enquanto isso o Jesus paz e amor e apolítico, que hoje garante a salvação a uma multidão de dizimistas a sustentar a boa vida de seus sacerdotes apoiadores da extrema-direita, doutrinava a massa a se resignar e aceitar toda essa injustiça geradora de fome afiançando um céu utópico no porvir? Não, esse Jesus nunca existiu! Como vimos acima, Jesus incitou o povo a buscar justiça social seguindo os passos de João Batista e tomou outras atitudes, em ações e palavras, que denunciam seu pedigree revolucionário como bem convinha a um galileu (justificarei à frente). Palavras dúbias, que aparecem novamente em Mateus, o Evangelho do clamor social, foram submetidas à exegeses exclusivamente “espiritualizadas”: “Não penseis que vim trazer paz a terra. Não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10, 34); “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele.” (Mt 11, 12). E segundo Lucas, pouco antes de ser preso, Jesus anunciou aos discípulos tendo o traidor como ouvinte: ‘(…) E quem não tiver uma espada, venda seu manto para comprar uma” (Lc 22, 36).  Jesus respondeu com a “espada”, e João com o “machado” (Lc 3, 9) em um contexto de uma realidade belicosa!

Para além da intepretação limitante de que esses símbolos são inofensivas metáforas, a questão crucial é: como a turba ignorante e o poder constituído entenderam a voz desse movimento social e religioso, posto que na palestina do primeiro século era impossível separar política de religião e não havia paz sem que ocorresse execuções de rebeldes em nome da vigente Pax Romana, a política de apaziguamento do Império pelo fio da espada (João) e morte de cruz (Jesus)? Deixo a cargo do notável teólogo Geza Vermes, o complemento dessa inquirição: “(…) O afastamento do centro e as montanhas escarpadas da Alta Galiléia parecem ter feito da área um abrigo ideal para revolucionários. Josefo, comandante em chefe das forças revolucionárias de ambas as Galiléias no começo da primeira guerra contra Roma, elogiou a bravura dos habitantes, que desde a infância eram treinados para a guerra (Guerra iii. 42). A província foi sede de agitação desde meados do primeiro século a. C. até a grande rebelião de 66-73/4 d. C….” (VERMES, 2006: 267). O fato irrefutável é que João foi morto a mando de um lacaio de Roma, e Jesus condenado pelo próprio pretor romano a uma pena exclusivamente romana (cruz). Não morreram como santos católicos romanos; antes como rebeldes judeus.

Não, não estou afirmando e nem sequer cogitando a possibilidade de Jesus ter incitado um levante armado contra o Império, mas ao afirmar “Não vim trazer a paz, mas espada”, opõe-se a Pax (paz) Romana, pois “A visão acerca da Pax é uma visão muito seletiva “desde cima”. Já a vista desde baixo não era nem um pouco otimista. O que se via era escravidão, recrutamento, impostos, tributos, trabalho forçado e arrogância romana. (…) Essas coisas eles chamam erroneamente de império: eles produzem desolação e a chamam de paz” (CARTER, 2002: 66-67). A “espada” é um símbolo bíblico da Palavra, “Pois a Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes; penetra até dividir a alma e espírito…” (Hb 4, 12). O verbo (espada) retinido de Jesus não era a violência, mas resistência – às injustiças! Nas palavras de Elenice Fátima Oliveira, em sua tese de Mestrado A Paz e A Espada No Evangelho de Mateus, “Ao negar que viera trazer a paz e sim a espada, Jesus estaria deslegitimando a Pax Romana e consequentemente denunciando sua violência contra os fracos e desfavorecidos (Mt 5)” (OLIVEIRA, 2016: 90).

Um ponto chave nessa contextualização: Jesus não pregou para meia dúzia de eremitas isolados em um algum deserto. Ele anunciava sua plataforma religiosa e política no meio do povão.  Jesus pregou a paz e não a patetice. Mas não há paz sem justiça social; não há paz quando um povo passa fome! Por isso, em Mateus 21, 12, atuando o espírito rebelde de um galileu raiz, ele vira a mesa dos cambistas e, segundo João 2, 15, faz “um chicote de cordas” para expulsar os “vendilhões do Templo”. Jesus atacou o coração do sistema financeiro judaico que se localizava no Templo, e denunciou os manipuladores da fé que através do lucrativo negócio da expiação sacrificial, faziam dos “pecados” alheios modo de vida. Transpondo aquela realidade para os nossos dias aqui na pátria do Evangelho (quiçá, um dia!), é preciso virar a mesa da atual distribuição de renda, combater a politicagem e denunciar os mercenários da fé, que, a exemplo do que ocorria no Templo, casa legisladora de Israel, agem como lobistas no Congresso Nacional fomentando um discurso neofariseu de fundamentalismo, intolerância, segregação e opressão, insensíveis a fome que assola nosso povo. Mas o que tudo isso tem a ver com o hino Refeição, Mestre Irineu e seus primeiros discípulos?

 

2 – REFEIÇÃO, O CONTEXTO SOCIAL DE MESTRE IRINEU E OS “NOVOS GALILEUS”

Igualmente os galileus explorados pelo sistema econômico romano, muitos dos convivas de Raimundo Irineu Serra colhiam os azedos frutos sociais do sistema exploratório impiedoso instaurado na região no 1º e 2º Ciclos da Borracha: “A Amazônia, região de valores culturais próprios, acolheu, em condições bastante degradantes, o imenso contingente de pessoas vindas do Nordeste, principalmente do Ceará. Homens e mulheres tiveram que se adaptar às leis do “mundo verde”, enfrentar a malária, os animais ferozes, a resistência indígena aos invasores de suas terras e a ganância dos senhores seringalistas. (…) Nos seringais era também proibida a agricultura de subsistência ou mesmo a caça e a pesca. Essas eram restrições impostas pelo próprio sistema de avivamento, que sujeitava o seringueiro a adquirir seus alimentos somente no “barracão”, mantendo-o preso a dívidas contraída a partir de sua saída do Nordeste…” (MOREIRA & MACRAE, 2011: 79-80, 211-212). Nesse contexto “neogalileu” de ter entre seus convivas pessoas pobres, iletradas, exploradas, endividadas e marginalizadas social e religiosamente, o que Mestre Irineu – homem que encarnou a mística e a ética do Cristo – fez para mitigar a carestia de seu povo?

 

2.1 – COMUNIZANDO AS TERRAS DO ALTO DA SANTA CRUZ (ALTO SANTO): A REFORMA AGRÁRIA DE MESTRE IRINEU

Em 15 de maio de 1945, aos 54 anos, o Mestre sai da Vila Ivonete, onde começou oficialmente seus trabalhos espirituais no dia 26 de maio de 1930 e se estabelece na Colocação Espalhado, imediatamente rebatizada de Alto da Santa Cruz, uma área localizada a 180 m acima do nível do mar. Após vender sua gleba na Vila, comprou essas terras de aproximadamente 500 hectares por três contos de réis, segundo depoimento de seu filho adotivo Paulo Serra (MOREIRA & MACRAE, 2011: 227-228, 231). Segundo o autor principal do tratado biográfico Eu Venho de Longe, Paulo Moreira, “Mestre Irineu pôde acolher vários novos seguidores que não tinham terra…” (p. 230).  A comunização de sua nova propriedade é relatada pelo autor, quando por volta de 1955, o Mestre “(…) Conseguiu subsídios agrícolas do governo e que pode alocar cerca de 40 famílias de seus seguidores em suas terras no Alto Santo… Muitos membros dessas famílias trabalhavam em regime de mutirão, semelhante ao modelo produtivo, implantado nos anos 1930 e 1940 em Vila Ivonete” (p. 277).

O condiscípulo Jairo Carioca, da tradicional família homônima do Alto Santo, em sua luminosa monografia Doutrina do Santo Daime: A Filosofia do Século, complementa: “Gradativamente, Mestre Irineu foi trazendo as famílias que ficaram na Vila Ivonete. Doando terras para a morada dos familiares, ele implantava seu sistema espiritual e cooperativista. ‘Ele dizia que chegaria um tempo, que felizes seriam aqueles que tivessem um pedacinho de terra para plantar. Assim estimulava cada um que vinha chegando, a se engajar com seu trabalho’ lembra seu Francisco Granjeiro que chegou na missão em 1950” (CARIOCA, 2000: 52).

O “povo da terra”, como eram chamados pejorativamente os galileus pela elite judaica e aristocrática romana, renascia no povo pobre e analfabeto que Juramidã fraternalmente juntava ao seu redor com muito labor, abnegação e dividendos: “Economicamente o grupo vivia do trabalho de cultivo da terra. O arroz, o milho, o feijão, a mandioca, a verdura, tudo era produzido pela força conjunta da irmandade, que se organizava em mutirões. O Alto Santo tornou-se um dos polos de maior produção no período que marca o final da década de 50 até o final da década de 60” (CARIOCA, 2000: 68). Essa grande produtividade certamente foi reforçada por uma conquista de Mestre Irineu junto às autoridades locais no ano de 1968: trata-se do Centro Mecanizado de Produção Agrícola do Alto Santo, que incluía “(…) casa de farinha, casa de moagem de cana, e outras benfeitorias “ (MOREIRA & MACRAE, 2011: 284-285). Mesmo quando, passados mais de 45 anos, visitou a terra natal em 1957 ausentando-se por três meses, a produção agrícola continuou a todo vapor supervisionada por sua esposa: “Ela teve uma missão árdua na administração dos trabalhos na ausência de seu marido. As plantações e as colheitas lideradas por Mestre Irineu, tiveram ritmo normal com sua ausência. Dona Peregrina Gomes Serra cedo estava no roçado, comandando e ajudando no cultivo dos produtos que garantiriam a sustentação do grupo” (CARIOCA, 2000: 55).

 

2.2 – “- IRINEU, BANCO SÓ PRA SE SENTAR!”: ENDIVIDANDO-SE POR MELHORIA COMUNITÁRIA.

Três anos após a compra de sua nova propriedade, quando já possuía discípulos domiciliados nela, Mestre Irineu “(…) Pediu um empréstimo ao Banco do Brasil para incrementar sua produção agrícola. Sabe-se que ele não conseguiu saldar a dívida no prazo dado pelo banco, aumentando seu débito, devido à cobrança de juros” (MOREIRA & MACRAE, 2011: 228). Segundo depoimento de Luiz Mendes do Nascimento a minha pessoa, referindo-se ao episódio, a intenção do Mestre ao potencializar a agricultura através de um empréstimo bancário visava tão somente proporcionar melhores condições de vida a seu povo. Quando se viu endividado e preocupado com o futuro de suas terras e de sua gente, procurou ajuda e recebeu do então governador e amigo Guiomard dos Santos um novo empréstimo pessoal. Quando, finalmente, conseguiu levantar o dinheiro com a venda de sua produção, foi até Guiomard para saldar a dívida. O Governador, em um ato de generosidade fez questão de não receber, embora não tenha deixado de dar um ensino ao querido amigo: “Irineu, aprende uma coisa: – banco, só pra se sentar!” Paulo Serra, seu filho adotivo, relatando o caso a Paulo Moreira, mostra que o Mestre aprendeu a lição: “(…) Papai não quis mais saber de banco” (MOREIRA & MACRAE, 2011: 229).

A respeito da grande amizade com José Guimard dos Santos – que vez por outra tomava Daime – e a lida agrícola de Mestre Irineu, não posso deixar de reproduzir uma história contada por sua esposa, que muito me emociona ao mostrar a dimensão da hombridade desse grande e legítimo líder espiritual: “(…) ‘Guiomard dos Santos vinha aqui, passava dias aqui em casa conversando com ele. Uma vez ele chegou e o velho estava no roçado. Aí ele mandou chamar. Disse: – Ora Irineu, eu venho aqui passar o dia contigo e tu tá no roçado! Acaba com isso, tu não é para trabalhar assim. Aí o velho respondeu: – Eu tenho que trabalhar porque não tenho quem me dê nada. O Guiomard, então, disse: – Eu vou te aposentar como veterano [de guerra], tu queres? Mas ele respondeu: – Não, eu não quero porque não sei mentir’, relata madrinha Peregrina em entrevista cedida ao Livro dos Hinários, 1985. (…) Com essa sinceridade, Mestre Irineu tinha a confiança e o respeito das maiores autoridades políticas do Estado naquela época” (CARIOCA, 2000: 59).

 

3 – ALGUNS BANQUETES HISTÓRICOS NA BIOGRAFIA DE MESTRE IRINEU

“Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘Eis aí um glutão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores’. Mas a sabedoria foi justificada pelas suas obras” (Mt 11: 19). Como Jesus, Mestre Irineu era festeiro, e gostava em certas ocasiões de dançar, beber e banquetear-se com os seus discípulos e amigos em geral, sem distinção de credo e muito menos classe social: “Além desses eventos [‘arraiais e festejos sociais’], os aniversários do Mestre, em 15 de dezembro, da madrinha Peregrina, em 14 de julho e outras datas festivas, como a data de casamento do casal, em 15 de setembro, eram festejadas geralmente com três noites de intensas festas. João Cruz, como é conhecido um grande tocador de saxofone do Acre, era um dos escolhidos por Mestre Irineu para animar as festas” (CARIOCA, 2000: 68). Evidentemente, nunca faltava uma mesa abundante à disposição. Dois relatos, a seguir:

 

3.1 – O BANQUETE DE CASAMENTO COM MADRINHA PEREGRINA (15/09/1956)

“A irmandade foi convidada para três dias de intensas festividades, era o enlace matrimonial do Mestre. (…) Música, dança e muita comida marcaram a data inesquecível. Doravante, Peregrina Gomes [neta de Antônio Gomes] passa a assinar com o sobrenome Serra. Estava unificado o amor divino que unia o casal. Mestre Irineu estava consciente de que a partir dali, começava a preparar aquela que seria herdeira de seus ensinamentos” (CARIOCA, 2000: 54).

 

3.2 – O BANQUETE DE CHEGADA DA VISITA AO MARANHÃO (14/02/1958)

Segue o depoimento de Daniel Serra a Paulo Moreira, quando aquele junto aos primos Zequinha e João, acompanharam o Mestre na volta de sua visita de um mês a São Vicente Férrer: “Chegamos ao Acre no dia 14 de manhã cedinho. Desembarcamos no porto de Rio Branco. (…) Chegamos, estava aquela fileira de gente esperando o Mestre desembarcar. Aí, subimos, não chegava carro lá. (…) Quando chegamos lá, andamos umas duas horas de pé, era um atoleiro doido. Era inverno, no mês de fevereiro. O pessoal já estava esperando ele. (…) Foi a primeira vez que ouvi cantar um hino. Foi cantado o hino “Centenário”, eu nem sabia o que era. Fiquei até desconfiado. (…) Aí cantaram, foi muito bonito, foram dois dias de festa de banquete. Depois fizeram uma sessão de Concentração. Foi a primeira vez que eu vi o pessoal tomando Daime” (MOREIRA & MACRAE, 2011: 257-258).

É interessante anotar uma dieta inusitada que o Mestre fez na viagem de ida, segundo depoimento de Madrinha Peregrina: “Era o maior desejo dele fazer essa viagem de barco. Foram 40 dias se alimentando com mujanguê [ovos, farinha e açúcar]  para aguentar a força da miração” (CARIOCA, 2000: 54). Conversando com Luiz Mendes do Nascimento acerca da sensibilidade que o Mestre alcançou, o velho Orador me revelou: “Ele chegou num ponto, que mirava sem Daime. Tomando ou não tomando, era a mesma coisa!”.

Mediante tanta comilança é oportuno revelar: segundo minha querida madrinha Percília (assim, eu a chamava), Mestre Irineu tinha uma forma de fazer seu próprio detox, palavra popular hoje em dia. Aproximadamente uma vez por mês, tomava chá de sene ou sal amargo, substâncias com propriedades laxativas. Fica a dica, mas antes é bom se informar bem direitinho.

 

3.3 – O BANQUETE NO INTERVALO DO PRIMEIRO HINÁRIO (24/06/1935)

O gosto em ter uma boa mesa ao dispor, não ficou restrito aos momentos sociais. Segundo depoimentos de Percília Matos a Jairo Carioca e Paulo Moreira, os quais, com ligeiras variações, tive o privilégio de ouvir em sua humilde casa no bairro Floresta em Rio Branco, vislumbra-se o que talvez tenha sido a primeira “ceia litúrgica” do Daime e até mesmo a primeira vez que o hino Refeição foi cantado em uma cerimônia oficial (São João de 1935) na casa de Maria Marques Vieira, a Maria Damião: “Em 1935, o recebimento dos primeiros hinos da doutrina, foi realizado o primeiro hinário. ‘Era 23 de junho de 1935… Quando foi meia noite ele deu um intervalo, já estava preparada a ceia numa grande mesa, quando ele mandou que nós cantássemos por três vezes aquele hino: – Papai do céu do coração/Que hoje neste dia/É quem dá o nosso pão/Graças a mamãe/Mamãe do céu do coração/Que hoje neste dia/É quem dá o nosso pão/Louvado seja Deus. Esse hino foi cantado de forma tão bonita, que nunca mais me esqueci até hoje’ – chora emocionada dona Percília Matos” (CARIOCA, 2000: 39-40). O relato de Paulo Moreira traz detalhes da ceia no intervalo da sessão, segundo depoimento de Percília: “Nessa altura, precisava você ver uma mesa repleta, era pamonha, era canjica, era aquele outro que chama pé-de-moleque, né, era tanta comida…” (MOREIRA & MACRAE, 2011: 164). O prazer de Mestre Irineu pela mesa farta, pela boa alimentação, não só para si como para seus discípulos, está de acordo com uma doutrina bíblica, muito presente em Eclesiastes: “E, que o homem coma e beba, desfrutando do produto de todo o seu trabalho, é dom de Deus” (Ecl 3: 13).

 

4 – REFEIÇÃO, O “PÃO NOSSO” DO PAI-NOSSO COMENTADO POR MESTRE IRINEU E A PROFECIA DE ATOS DOS APÓSTOLOS

Nas belíssimas palavras místicas (eucarísticas) e proféticas de Mestre Irineu ao comentar a petição  “O pão nosso de cada dia nos dai hoje, Senhor”, contida no Pai-nosso do Daime: “Porque o pão é o alimento, o conforto e a vida que o Divino Pai derrama sobre todos os vossos filhos e resplandece em raios de vossos divinos mistérios, em fios dourados, em cristais sobre a terra(REVISTA DO CENTENÁRIO, 1992: 51. Grifos meus). Correlacionando à profecia: “Sucederá nos últimos dias, diz Deus que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão [os hinos], vossos jovens terão visões [mirações] e vossos velhos sonharão [“O sonhar [mirar] é uma verdade…”, O Cruzeiro 57, 5] (Atos, 2: 17). Segundo os comentaristas da Bíblia de Jerusalém, 2002, “últimos dias” é sinônimo para “os tempos messiânicos” (p. 1903, nota “d”).

Convido o leitor a ler ou reler os seis primeiros parágrafos (no mínimo) da intepretação do hino 1, Lua Branca, em que forneço detalhes exegéticos da promessa do “vinho novo” feita por Jesus na última ceia, correlacionando-a ao Daime, posto que a mesma doutrina da Koinonia, a fração do pão, “(…) Sintetiza e expressa a existência da comunidade primitiva como comunhão com Cristo, morto e ressuscitado, e, por ele, com o Pai e com os irmãos, mediante ação do Espírito Santo“ (DICIONÁRIO TEOLÓGICO, 1988: 161). Essa “força” – como Lucas denomina o Espírito em Atos 1, 8 -, é anunciada no hinário Sois Baliza, assinado pelo discípulo primaz de Mestre Irineu, Germano Guilherme: “A Virgem Maria vem acompanhando/Com esta divina luz vem alumiando/Neste caminho neste caminho/Neste caminho do Espírito Santo” (35: 3). No vigor e magia desse Espírito, “A terra aonde estou/Ninguém acreditou/Dai-me amor, dai-me amor/Dai-me (Daime), o pão do Criador”, celebra o preceptor revelando a sagrada eucaristia, que na mesma cena da promessa do Vinho Novo (Mc 14, 22-25), Jesus instituía: “Tomai, isto é o meu corpo” (o pão); “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança…” (o vinho).

O vinho (o “sangue” ) é um símbolo da Vida, que transforma – por entendimento/compressão  – o pão (Palavra) em alimento para o espírito/consciência. Esse “milagre” eucarístico frutifica em Mestre Irineu quando, 43 hinos depois, hino 85, Vou Seguindo, no  “caminho de Jesus Cristo aonde andou com seus profetas”(v. 2), torna à mesma doutrina proclamando uma linda, humilde, fraterna e amorosa afirmação: “Na casa da Virgem Mãe/De Jesus Cristo Redentor/Cantamos, manos, cantamos/Consagrando este amor” (85: 3) – “manos” é algo ainda mais próximo (comunial) do que “irmãos”! O verbo cantar, citado em 27 hinos n’ O Cruzeiro é o catalizador da transubstanciação da palavra morta (não compreendida) no Verbo encarnado (o corpo do Mestre e da Doutrina), tornando-o (a) vivo (a)/ressurrecto através do inebriar de seu sangue (vinho) ígneo e sagrado. Através dessa consciência do que é o pão substancial (“Pão do Criador”) é possível compartilhar o pão material de forma absolutamente natural. Jesus e Mestre Irineu – como bem vimos acima – deram esse testemunho através da doutrina da comensalidade ou camaradagem à mesa, fruto de um excelso espírito fraternal.

 

5 – REFEIÇÃO, “GRAÇAS A MAMÃE”: A ERA DO CÁLICE REDIVIVA

“Tua esposa será videira frutuosa, no coração de tua casa; teus filhos, rebentos de oliveira, ao redor de tua mesa” (Salmos 128: 2-3);

“Eu sou a Videira verdadeira e meu Pai é o agricultor” (João 15: 1);

“(…) Em verdade vos digo, já não beberei do fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo [Vinho da Deusa] no Reino de Deus “ (Marcos 14: 22-25);

 

PAPAI DO CÉU DO CORAÇÃO

QUE HOJE NESTE DIA

É QUEM DÁ (FOI QUEM DEU) O NOSSO PÃO

GRAÇAS A MAMÃE

 

Em um texto até agora repleto de citações das Sagradas Escrituras cristãs, fundamentar teologicamente a expressão “graças a Mamãe” é bíblico? Aparentemente não, e tem uma razão de ser. A Bíblia também é um símbolo e monumento erigido pelo poder patriarcal como instrumento de sua ideologia bélica (a mãe gera vida, e a guerra ceifa), tirânica, sectária, subjugadora das mulheres e do poder telúrico  – a oferta de Caim, que cultivava o solo, foi rejeitada em Gn 4, 2! -, exaltando-se um deus todo poderoso sem companheira, que habita um céu distante e de onde emana um poder falocêntrico. Ainda assim, sob os raios de um novo alvorecer, o Deus de amor pode ser visto através das brechas da fortificação que edificaram para mantê-lo refém da miopia misógina e preconceituosa de seus sacerdotes. Eis um momento, por exemplo, em que Iahweh “Senhor dos Exércitos”, saiu da armadura e colocou-se como uma matrona: “Sereis amamentados, sereis carregados sobre as ancas e acariciados sobre os joelhos. Como a uma pessoa que a sua mãe consola, assim eu vos consolarei…” (Isaias 66:12-13).

Mestre Irineu, no sagrado, edificante e genial “replante de doutrinas (lit. ensinos)”, convida-nos a reviver a denominada Era Matrística, predominante no Período Neolítico, que deu lugar à força a Era Patriarcal. Segue um panorama bem sintetizado pela socióloga austríaca Riane Eisler em seu best-seller e obra-prima O Cálice E A Espada: “(…) O período pré-patriarcal era agrário, não tinha fortificações, não tinha sinais de guerra, os lugares de culto abrigavam figuras femininas, não havia diferenças entre as tumbas de homens e de mulheres, e não havia sinais que nos permitissem falar de diferenças hierárquicas entre homens e homens, nem entre mulheres e mulheres, ou entre mulheres e homens. Era um mundo de convivência centrado no estético e na harmonia com os mundos animal e vegetal” (EISLER, 2007: 28). E nos remete a uma característica importante, que nos levará à mensagem oculta de Jesus quando ele usa parábolas agrícolas (Mt 13: 24-30; 31-32); deixa ungir-se por uma mulher (Mc 14, 1-11) replantando o “ritual do Rei sacrificado” pertencente ao culto a Deusa (fertilidade); veste-se de púrpura na via dolorosa (cor de Deméter e Perséfone, deusas agrárias), e comunica o conceito morte-ressurreição: “Seria natural para eles [na Era Matrística] imaginar o universo como uma Mãe generosa, de cujo ventre aflora toda vida, e ao qual tudo retorna depois da morte para em seguida ressurgir, como nos ciclos da vida vegetal” (p. 29)…

“Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1: 4). O “Rei Sacrificado” e “plantado” renasceria, segundo a crença do culto de fertilidade, nos frutos da terra. Olhemos para o mistério do cipó do Daime, cognominado “Rei Jagube”, que unido a “Rainha” (folha) traz a força luminosa da vida, vivência do viver do Cristo. Estamos na colheita – “ressurreição dos mortos”! Há um código deixado por Jesus nos Evangelhos, que será acessado por Mestre Irineu, legitimando os frutos da terra, Jagube e Rainha, como os divinos ingredientes do “Vinho Novo” prometido na última ceia. Em um momento oportuno, revelarei esse revolucionário e bombástico segredo. No Livro do Apocalipse, o exilado de Patmos descreve uma preciosa visão que corrobora o que acabei de afirmar, quando fala acerca das “folhas [que] servem para curar as nações” (Ap 22: 2). Não é pertinente alongar a exegese aqui.

NOTA: quanto ao “ritual do rei sacrificado” ver em Referências: STARBIRD, 2004: 49-54; quanto a Deméter, Perséfone e a cor púrpura: WASSON ET AL., 2013: 94.

 

6 – REPARTINDO O PÃO: A TEOLOGIA DA AÇÃO DE GRAÇAS E DO LOUVOR NO HINO REFEIÇÃO.

 

PAPAI DO CÉU DO CORAÇÃO

QUE HOJE NESTE DIA

É QUEM DÁ (FOI QUEM DEU) O NOSSO PÃO

GRAÇAS A MAMÃE

 

MAMÃE DO CÉU DO CORAÇÃO

QUE HOJE NESTE DIA

É QUEM DÁ (FOI QUEM DEUS) O NOSSO PÃO

LOUVADO SEJA DEUS

 

Enquanto a primeira estrofe traz a ação de graças, na segunda temos o louvor. Baseado na socialização do pão, que estudamos acima, praticada por Jesus e Mestre Irineu, o doutor Isidoro Mazzarolo observa com pertinência e maestria hermenêutica: “É da partilha na justiça que o romper do pão passa do simples louvor para a ação de graças… Por isso, a ação de graças se dá sobre essa integração social e teológica do projeto do Reino. Eucharistein (dar graças) é superação de eulogein (bendizer, abençoar) pois este situa-se mais no horizonte da palavra, enquanto a ação de graças está mais na dimensão da vida” (MAZZAROLO, 2006: 120). De qual vida? Na interpretação do autor (p. 121): “Na pregação profética, o romper do pão tem a ver com a justiça, e esta tem maior implicação com a vida do que com o culto (1 Cor 8, 7-13), pois esta é compromisso com o outro: ‘Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que participamos deste único pão’ (1 Cor 10, 16-17)’”. No que tange ao hino Refeição, observamos uma justa coerência: antes de louvar a Deus (2ª estrofe), vem a ação de graças (lit. eucaristia) pelo “NOSSO pão” (sentido comunitário). Melhor louvo a Deus quanto melhor partilho o pão entre os filhos seus!

 

7 – O HINO REFEIÇÃO E O BAÚ DO VOVÔ LUIZ

“Baú do Vovô Luiz” é como denomino, carinhosamente, as histórias que ouvi de Luiz Mendes do Nascimento em meu longo estágio com a sua pessoa. Compartilho, a seguir, três desses contos, todos relacionados de alguma forma ao enredo do hino ora estudado.

 

7.1 – MATANDO UMA COTIA AO PÉ DE UM JAGUBE

“Rapaz, era um tempo que eu passei de muita dificuldade. Às vezes eu almoçava mas ainda não tinha a janta. Então num desses dias, eu sai atrás de algum bicho de caça. Entrei na mata, fui entrando e, de repente, avistei uma cotia grande. Fiquei animado, já pensando nos meninos… Acontece, que ela estava a bem dizer do lado ou até embaixo de um Jagube! Daí, eu falei: E agora, mato ou num mato? Eu tinha que ser rápido na decisão, já não era tão cedo e eu não tinha nada para levar para casa. Devagarinho, aprumei a espingarda e atirei. Ora, foi só um. Peguei o bicho e voltei. No caminho, a consciência começou a pesar. Eu me sentia culpado de ter matado um ser ao pé de um Jagube. Deixei a cotia em casa pra mulher preparar e fui bater na casa do Mestre. Quando ele abriu a porta já percebeu que eu estava preocupado e foi logo dizendo: – O que aconteceu, Luiz? Contei a história todinha. Ele ouviu com atenção e perguntou: – Luiz, você tinha o que comer? Eu respondi que não, que não tinha! Então, ele abriu um sorriso e me falou: – Luiz, deixe de besteira! Vai comer tua cotia sossegado, e se ainda sobrar alguma coisa traz uma provinha pra mim! E abriu uma gargalhada. Pois é, sai de lá aliviado! Ele dava um jeito de confortar a gente”.

 

7. 2 – A HORA DO ALMOÇO E O PEIXE MILAGROSO

“Olha, dia de domingo, às vezes a casa do Mestre ficava cheia, o povo ia visitar ele. Ninguém tinha telefone para avisar, combinar alguma coisa. A pessoa tinha aquela vontade de ver o Mestre e ia lá na casa dele. Ia muito à vontade porque sabia que ele gostava e recebia todo mundo muito bem. Num desses dias eu estava também. O pessoal começou a chegar cedo e foi chegando, chegando… Quando pensa que não a sala estava cheia. Conversa vai e conversa vem, a hora do almoço foi se aproximando e o próprio Mestre puxando conversa… Daqui a pouco, a comadre Peregrina [madrinha de batismo de Saturnino] veio falar com ele, assim um pouquinho preocupada, porque não ia ter uma mistura [carne] para todo aquele povo. Ela falou de forma discreta, mas eu estava pertinho e ouvi. Ele disse que era para ela ficar tranquila. Ele podia ter mandado matar algum bicho lá das criações dele, que fosse umas galinhas, mas ficou quieto. Daqui a pouco, veio a comadre de novo, um pouco mais aperreada e ele a tranquilizou novamente dizendo que daqui a pouco ele chamava ela. Não deu muito tempo, bateram palma lá no terreiro. Era um conhecido dele carregando com mais outro companheiro um peixe enorme, se não me engano, era um filhote, que é um peixe delicioso e grande. O Mestre se levantou e foi lá ver quem era. Ora, quando ele chegou na porta, o homem disse: – Mestre, eu peguei esse peixão aqui para lhe dar. Quando eu pesquei eu pensei logo em vender, mas de repente eu pensei tanto no senhor, que falei: – eu vou dar é de presente pro Mestre Irineu. Pois é, ele aceitou, agradeceu e logo chamou a comadre: – Piu – era a forma carinhosa que ele a chamava – vem aqui! Quando ela chegou na sala ele só falou, sorrindo: – Olha aí, não disse para você ficar tranquila. O resultado é que deu pra todo mundo comer bem e ainda sobrou! Ele já sabia. Eu digo isso, porque ele chegou em um patamar, como diz aquele hino d’O Cruzeiro, “Tudo, tudo Deus me mostra…” [109], que ele a bem dizer já sabia de tudo. Olha, não foi só comigo, tem gente antiga aí que pode confirmar. Você saia da sua casa para visitá-lo, até com alguma coisa, alguma dúvida para perguntar, e quando você chegava lá, ele dizia que já estava lhe esperando e antes que você fizesse a pergunta, ele já entregava a resposta. Esse era o nosso Mestre”.

 

7. 3 – A VACA DA CARIDADE

Houve um caso que eu gostaria de te contar, para exemplificar a grande generosidade do nosso Mestre. Era um conhecido dele, que tinha muitos filhos e estava passando um período de dificuldade, inclusive para alimentá-los. O Mestre, sabendo da situação, mandou chamá-lo e deu de presente uma vaca que tinha lá na pequena criação de gado dele, e falou assim: – Olha fulano, eu vou te dar essa vaca, que é muito boa de leite, que é pro senhor – ele gostava de tratar todo mundo de senhor e senhora – alimentar melhor os seus filhos. O homem ficou bem feliz e agradeceu muito e coisa e tal… Mas o certo é que passou um tempo e chega aos ouvidos do Mestre que o homem estava vendendo a vaca! O Mestre mandou chamar: – Fulano, eu lhe dei essa vaca para o senhor ter um leite para dar as suas crianças, e o senhor vai vender?! Aí, o homem justificou: – Mestre, eu estou passando por muitas dificuldades, não tem outro jeito! Daí o Mestre perguntou: – E quanto é a vaca? É tanto – respondeu o homem. Daí, rapaz, o Mestre nem regateou, foi lá no lugar onde ele guardava um dinheirinho e na mesma hora comprou a vaca que ele mesmo havia dado! Foi o que ele julgou certo fazer. Daí, nesse exemplo, você vê bem a bondade dele”.

 

8 – A QUANTAS ANDA A FRAÇÃO DO PÃO NAS IRMANDADES DAIMISTAS?

Acabamos de testemunhar os exemplos de Jesus e Mestre Irineu no que diz respeito à partilha do pão e o aspecto social dessa ação sagrada. Qual o sentido que damos ao “pão nosso” do Pai-nosso que rezamos; muitos, todos os dias? É uma oração de intenção comunitária como em suas origens, ou nos acomodamos ao viés individualista adequado pela sociedade egoísta do cada um por si e Deus por todos? Além da caixinha do dinheiro, existe nos centros/igrejas um setor de atendimento social aos irmãos mais necessitados? Estamos interessados nesse assunto ou mal temos tempo para administrar nossa vida no mundão, incluindo o acúmulo de bens e a vaidade material e espiritual nas redes sociais? Considerando que o irmão carente é uma pessoa idônea e trabalhadora, pois ninguém tem a obrigação de estender a mão para gente mal caráter e acomodada, qual o tipo de auxilio que poderíamos prestar, de forma conjunta ou individual? Abrir um espaço para que essas pessoas sejam ouvidas quanto à sua realidade de carestia e sofrimento, criando uma rede de solidariedade através de canais facilitadores de emprego e auxílios emergenciais, é uma boa sugestão.  Meditemos na última estrofe do hino 10, Meu Mestre A Vós Eu Peço, do hinário Bandeira da Paz, de Percília Matos da Silva, benemérita zeladora d’O Cruzeiro:

 

TODO MUNDO ACHA DIFICIL

SEGUIR NESTA CIÊNCIA

PORQUE PRECISA EXISTIR A CONSCIÊNCIA

E NINGUÉM QUER OLHAR PARA SEUS IRMÃOS

TODOS QUEREM SÓ PRA SI E OS OUTROS NÃO

Ouça: https://nossairmandade.com/hymn/1890/MeuMestreAV%C3%B3sEuPe%C3%A7o

 

Precisamos exercitar diariamente a virtude da compaixão, que é compartilhamento da dor do próximo. A partilha do pão vem desse sentimento de se colocar no lugar do outro e fazer esforço sincero para, ao menos, mitigar a sua fome – de comida, de acolhimento, de oportunidades. Esse é um exercício de tiramos o foco do nossos umbigos, e construirmos através da solidariedade o melhor dos abrigos: o amor fraternal! Amém.

 

9 – IMAGEM DO POST

Mestre Irineu na inauguração do Centro Mecanizado de Produção Agrícola do Alto Santo em 1968. Click de Américo de Mello. Agradecimentos aos condiscípulos Altino Machado e Alexandre Freitas por suas ajudas quanto à autoria, datação e localização da foto.

 

10 – A HUMILDE CASA DE MESTRE IRINEU NO ALTO SANTO

 

11 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AMARAL, Hélio soares do Amaral. Os Cães Filósofos: história da filosofia de resistência. São Paulo: Annablume, 2006;

ASLAN, Reza. Zelota: a vida e a época de Jesus de Nazaré. Rio de Janeiro: Zahar, 2013;

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém: Nova Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Paulus, 2002;

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BOFF, Leonardo. O Pai-nosso: a oração de libertação integral. 13ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013;

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DICIONÁRIO TEOLÓGICO: o Deus cristão. São Paulo: Paulus, 1988;

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GUTHRIE, George H. Lendo a Bíblia Para a Vida. Rio de Janeiro: CPAD, 2014;

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STARBIRD, Margaret. Maria Madalena e o Santo Graal: A Mulher do Vaso de Alabastro.  3ª Ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004;

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WASSON, Robert Gordon; HOFMANN, Albert; RUCK, Carl A. P. El Camino a Eleusis: una  solución al enigma de los misterios. 2ª Ed. México: FCE, 2013;

ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares Montovani. Comprai E Comei; Comprai Sem Dinheiro E Sem Pagar; Vinho e Leite (Is 55, 1-2). Estudos Bíblicos (Revista). v. 35, n. 137, p. 34-44, jan./mar. 2018.

Respostas de 4

  1. Gratidão pelo belo texto. Aprendi mais sobre a doutrina do Santo Daime, a partir de uma reflexão teológica ousada que nos instiga ao exercício de uma práxis autiva e revolucionária.

    1. Muito grato, amigo. É ousado sim! Cada Evangelho apresenta um Jesus. O de Mateus, sem dúvidas, apresenta um “Jesus sindicalista”, aquele que luta e consola o “proletariado”… São várias as faces de Jesus, incluindo a mística. Forte abraço fraterno 💕

  2. Meu mano de fé! Concluída a leitura, maravilhada e agradecida como sempre pelo dom divino que comunicas com sinceridade e rigoroso estudo para os ouvidos (corações) que tiverem condições de ouvir os ensinamentos do nosso Mestre, galileu noutros tempos, mas que agora o conhecemos como Irineu.

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