“Rogativo dos Mortos” – A Cronologia da Paixão e o Hino 14

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INTRODUÇÃO

Segundo Renata Nascimento, doutora em história, “No cristianismo observa-se a ideia de um eterno retorno à Terra Santa, seja através de imagens e/ou palavras. Esta sacra representação é guiada pelos Evangelhos, que oferecem uma descrição dos lugares em que Cristo esteve, e cumpriu sua missão” (NASCIMENTO: 2019: 25). Em outras palavras, a Paixão e a Via-Crúcis tomam parte na memória coletiva cristã.

Após vinte cinco anos de estudos específicos sobre a história, teologia e esoterismo deste hinário, proponho que as etapas da paixão de Jesus estejam codificadas neste hino 14 d’O Cruzeiro, a pedra fundamental do Terceiro Testamento, título do clássico livrinho de Sebastião Jaccoud, expoente do CICLU-Alto Santo (JACCOUD, 1992). Afinal, Mestre Irineu afirma categoricamente no hino Sexta-Feira Santa: “Vou seguindo, vou seguindo/Os passos que Deus me dá/A minha memória divina/Eu tenho que apresentar” (104: 2), e “A minha mãe que me ensina/Me diz tudo que eu quiser/Sou Filho desta verdade/E meu pai é São José” (104: 3). E apresenta de forma oculta, nas entrelinhas, pois como anunciou ao discípulo Raimundo Gomes, “Já fazem meio século/Que eu trabalho dentro da luz/Quase vou assassinado/Como assassinaram Jesus”, que lhe responde em seguida: “Os estudos que vós tem/Que o divino Pai lhe dá/Os mesmos assassinos não podem lhe assassinar” (O Ramalho, 54: 5-6).

Em digníssima imitação de Cristo, edificando sua teologia da cruz, Mestre Irineu repete “Para sempre amém Jesus” por seis vezes em seis hinos. A palavra “amém”, na acepção litúrgica, expressa uma reiteração formal de algo feito ou dito (AMÉM, 2009). A repetição quase exaustiva dessa expressão aliada a outra – “de joelho (s) em uma cruz”, grafada no hino 24 e 65 – denota uma sanha devocional que faz lembrar a senda paulina: “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado pra mim e eu para o mundo” (Gl 6: 14), ou no verbo redivivo de Juramidã, nome crístico e apocalíptico de Mestre Irineu: “Sempre assim eu vou dizer/Sempre assim eu quero ser/Amar a eternidade/Ser fiel até morrer”, um “amém” ao mashal (parábola rabínica) de Jesus: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a encontrará” (Mt 16: 24-25).

O Mestre da Galileia dos Gentios (lit. estrangeiros), prometeu na última ceia em Jerusalém: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo [Dai -me!] que o Pai enviará em meu nome [“para sempre amém Jesus”], vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse” (Jo 14: 26). E o “chefe estrangeiro” – epíteto e criptônimo (nome oculto) anunciado pela sacerdotisa Maria Damião acompanhada dos “novos galileus” (46: 7-8) -, confirma a voz profética do Cristo, justamente no hino que antecede àquele (104) que encerra em seu título, o dia da crucificação: “Vou seguir a minha linha/E Vou deixar recordação/Todos querem, todos querem/Todos querem ser irmãos” (103: 1). Vivendo suas últimas horas, durante a ceia em que o pão é a Palavra, e o Vinho o que torna a Palavra viva, ensinou-nos como é no sublime exemplo que sacia a alma cristificada, a redentora servidão: “(…) Levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha que estava cingido” (13: 4-5).

Verdadeiramente cristificado, frutificando a eucaristia (o Vinho vivifica e autentica a Palavra) em linguagem que traduz unidade por divina camaradagem – “manos” é mais íntimo que “irmãos” – , exorta em Vou Seguindo: “(…) Cantamos, manos, cantamos/Consagramos este amor”, após convidar e propor: “(…) Vamos ver se nós acerta/O caminho de Jesus Cristo/Aonde andou com seus profetas” (85: 3-2). Sigamos, recordando as derradeiras horas do Messias galileu através do Verbo do “filho do homem” que havia de vir e que veio replantar e “(…) Assinar para sempre a santa cruz” (107: 2), ou como exorta a epístola petrina: “(…) Também Cristo sofreu por vós, deixando-vos o exemplo, a fim de que sigais seus passos” (1 Pd 2:21).

 

O “ROGATIVO DOS MORTOS”, O “ROGATIVO DA ÚLTIMA CEIA E A SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

“Rogativo dos Mortos” é o maior hino d’O Cruzeiro (13 versículos), cantado apenas na Missa instituída por Mestre Irineu. De forma impessoal – como sufrágio, oração pelo morto – é endereçado às almas desencarnadas. Contudo, surgem duas perguntas: por que as horas citadas no hino se limitam entre “doze horas da noite” e “nove horas do dia”? Nos dez versículos que decantam as referidas horas repete-se a expressão “meu irmão”. Segundo o orador de Mestre Irineu, Luiz Mendes do Nascimento, o hino encerraria um vaticínio de Raimundo Irineu Serra acerca de seu desencarne, ocorrido exatamente às nove horas do dia 06/07/1971 (MAIA NETO, 2003: 29). Mas existe uma alternativa exegética: quem é o “irmão” que de forma contundente teve a vida marcada e narrada em detalhes entre meia-noite e nove horas da manhã da sexta-feira santa?

À meia-noite Jesus estava no Monte das Oliveiras e às nove horas da manhã foi crucificado – a “hora terceira” do Evangelho de Marcos 15, 25 corresponde às nove horas da manhã (BROWN, 2011: 113)! Acrescenta-se que o número do presente hino (14) coincide, segundo as referências de alguns estudiosos, com o dia 14 do mês judaico de Nissan, o dia da crucificação  (BOSEN, 2015: 46; BROWN, 2011: 596; 599; TABOR, 2013: 213; VERMES, 2006: 18). Outra coincidência gritante em relação ao hino, é o número de estações da Via-Crúcis ou Via-Sacra: são tradicionalmente 14! Da condenação de Jesus no Pretório, a primeira, ao sepultamento no Horto de Arimatéia, a décima quarta (NEWMAN, 2016: 5-6).

Antes de se dirigir ao Monte das Oliveiras, Jesus ceou com os apóstolos ministrando seu último sermão, cujo epílogo (Capítulo 17 do Evangelho de João) foi um grande rogativo por seus discípulos.  Ao longo dos 26 versículos que compõem o “Rogativo da Santa Ceia”, a palavra “rogo” aparece três vezes nos versículos 9 e 20 nas traduções da Bíblia de Jerusalém (2012) e João Ferreira de Almeida, Bíblia Thompson  (2007). No versículo de abertura do rogativo joanino: “(…) Pai, é chegada a hora. Glorifica o teu filho, para que teu filho lhe glorifique” (Jo 17: 1).  Mestre Irineu usa a palavra “hora (s)” dez vezes neste hino, e o Evangelho de João a usa associada a Jesus por no mínimo sete vezes (2:4; 7:30; 8:20; 12:23,27; 13:1; 17:1). Segundo o eminente teólogo de Cambridge, James D. G. Dunn, “Houve indícios do que a “hora” traria, mas somente quando a narrativa da paixão começou propriamente ficou claro que a “hora” é a hora da morte de Jesus(DUNN, 2017: 107)

 

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15: 13)

 

SÃO DOZE HORAS DA NOITE

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

“Mudar”: “modificar (-se); transferir (-se) para outro local; apresentar (-se) de modo diferente, física ou moralmente” (MUDAR, 2009).

Na Última Ceia, Jesus dirige-se ao Pai: “Já não fico no mundo [“Meu irmão se mudou”] – eles porém ficam no mundo – porque vou ter contigo [“O sono da eternidade”]” (Jo 17: 11)Após a ceia, por volta de meia-noite de sexta-feira, Jesus chega ao Monte das Oliveiras (Mc 14: 32-42). Segundo o Zohar: “À meia-noite O Santíssimo vem ter seu deleite com os justos no Jardim do Éden. (…) A oração da meia-noite tem um supremo valor para os que se ocupam do estudo da alma da Torá e da alma de seus segredos. (…) É o momento, também, em que Raquel – o símbolo da mãe, a Shechiná – se levanta todas as noites para chorar por seus filhos amados, que perambulam de exílio em exílio, de perseguição em perseguição, fugindo dos tigres do mundo” (BENSION, 2006: 153). No Getsêmani, soturno oliveiral, Jesus reza “três horas de oração”, segundo o Bendito da Sexta-Feira Santa (MAIA NETO, 2003: 46-47). Se a última prédica foi um rogo por seus discípulos, ao deixar os apóstolos de sentinela e se afastar para orar, estava testando neles a mesma capacidade: “Minha alma está em tristeza mortal; ficai aqui e velai comigo” (Mt 26: 38). Uma hora depois retornou…

 

UMA HORA DA MADRUGADA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

“E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: então nem uma hora pudeste velar comigo?” (Mt 26: 40). O sono é a inconsciência. Jesus se retira pela segunda vez e aceita o cálice – silêncio tumular.  Mais uma hora se passou…

 

DUAS HORAS DA MADRUGADA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE MANDOU

 

“Quando voltou, outra vez os encontrou dormindo; estavam com os olhos carregados” (Mt 26: 43). O ensino havia sido dado: “O olho é a luz do teu corpo” (Mt 6: 22,23). Alerta, desolado e conformado, retira-se pela terceira vez…

 

SÃO TRÊS HORAS DA MADRUGADA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

Jesus repete a oração em agonia, perfazendo as “três horas” do Bendito, e Lucas, um instruído médico sírio de Antioquia, em característico estilo Tragédia grega, com muita sensibilidade retrata o transtorno emocional de seu herói, transformando (mudando) suor em sangue (Lc 22: 44). Voltou aos discípulos: “Continuais a dormir tranquilamente? Eis que chegou a hora” (Mt 26: 45). Jesus é traído, preso, atado e conduzido a presença do pontífice Anás. Todos os discípulos o abandonam e batem em retirada.

 

QUATRO HORAS DA MADRUGADA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

Por volta das quatro horas da madrugada fazia frio e havia uma fogueira (Jo 18: 18). Pedro e o Discípulo Amado retomam a coragem e acompanham o Mestre. O Discípulo Amado entra no pátio do pontífice; depois Pedro, que nega Jesus a primeira vez. Jesus é interrogado por Anás e recebe um soco de um dos servos (Jo 18: 22). Amarrado, é enviado ao sumo sacerdote Caifaz, genro de Anás.

 

CINCO HORAS DA MADRUGADA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

Na presença de Caifaz, anciões, escribas e guardas do Templo, Jesus é caluniado, interrogado, cuspido, esbofeteado, escarnecido e declarado réu de morte (Mc 14: 53-65; Jo 18: 12-22). Segundo o minucioso estudo contextualizado de Rodrigo Freitas Palma, mestre em ciências da religião e doutor em ciências jurídicas e sociais, “(…) Foram cometidas, desde o primeiro momento, inúmeras irregularidades procedimentais no julgamento de Cristo”, tais como: prisão noturna, interrogatório fora das dependências do Sinédrio, ausência de amplo direito de defesa e horário e celeridade atípica (PALMA, 2011: 88-89). Enfim, um julgamento clandestino.

Caifaz não tinha autoridade para executar Jesus através da crucificação (só os romanos podiam fazê-lo), então o envia a Pôncio Pilatos, pretor de Tibério, o imperador. Caifaz e o Conselho, baseados na delação voluntária e premiada de Judas, mudam a acusação: de blasfêmia (cuja pena era o apedrejamento) para sedição (traição). Acusaram-no de se autoproclamar rei e de se rebelar contra os romanos (Lc 23: 2). Matar Jesus trivialmente não era o bastante. Era necessário um toque de macabro e cruel glamour. A denúncia objetivou fundamentar a morte na cruz, a mais aviltante e torturante das penas romanas; “a mais desprezível das mortes”, nas palavras do historiador do primeiro século e testemunha ocular de crucificações, Flávio Josefo (TABOR, 2006: 233). Pedro repleta seu cálice de culpa e o galo canta anunciando o alvorecer…

 

SÃO SEIS HORAS DA MANHÃ

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

Jesus é enviado “logo de manhã” (Mc 15: 1) a Pôncio Pilatos, que o interroga. Pilatos, político, sabendo que Jesus era Galileu, portanto, da jurisdição de Herodes Antipas (filho de Herodes, O Grande), habilmente resolve passar o estorvo para outras mãos.

 

SÃO SETE HORAS DO DIA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

Se frente a Pilatos, Jesus pronunciou alguma palavra, face a face com Antipas, um ícone da zombaria, permaneceu totalmente calado – o silencio que estanca as contendas e absorve a sentença: “Foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro, como ovelha que permanece muda na presença dos tosquiadores (Is 53: 7). A “raposa” (Lc 13, 32), alcunha depreciativa dada por Jesus a Antipas, com grande esperteza devolve O Cordeiro a Pilatos.

 

SÃO OITO HORAS DO DIA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE MANDOU

 

Não podendo mais fugir de seu destino, Pilatos foi obrigado a tomar uma decisão. E ele tinha autoridade para mandar soltar ou crucificar (Jo 19: 10). Tratava-se do ius gladii, o poder da vida e da morte; uma transmissão jurisdicional do imperador para o governador (RIBEIRO, 2010: 88). Como um político na politicagem, faz a vontade dos sacerdotes judeus e não se arrisca em relação ao Cézar.  Entrega Jesus a flagelação e a coroação de espinhos – Roma zombando do “Rei dos Judeus”. “Eis o vosso rei!” (Jo 19, 14): a roda-viva do escárnio imperial prossegue na ironia de Pilatos, que apesar da maquiagem de bom-moço urdida pelos editores romanos dos Evangelhos – intencionando, à época, incriminar unicamente a esfacelada nação judaica -, segundo o historiador contemporâneo Fílon de Alexandria, “(…) Utilizava subornos, insultos, roubalheiras, fúria, injúrias a esmo, constantemente repetia execuções sem julgamento, crueldades incessantes e supremamente aflitivas” (CROSSAN, 1995: 175-176).

Lá estava o pretenso e ridicularizado Messias na iminência de ser amaldiçoado diante da própria Lei, que segundo Deuteronômio 21: 23 decreta: “Se um homem, culpado de um crime que merece a pena de morte, é morto e suspenso em uma árvore, é um maldito de Deus”. A memória dos heróis armados – que banhavam os pés no sangue do inimigos e deixavam os corpos para os cães comerem (Salmo 68: 21-24) –  não podia sucumbir perante um anti-herói humilhado: – “Crucifica-o!” (Jo 19, 15), bradava o populacho. Bastante debilitado, cambaleando sob o madeiro pesado, patíbulo da infâmia, caminhando em subida, Jesus percorreu em torno de 600 a 800 metros até o Gólgota. Com a face banhada em sangue, em razão dos espinhos que em sua cabeça foram cravados, os ombros feridos pelos açoites, as costas dilaceradas e após três quedas tendo os joelhos aparados nas pedras, o trajeto foi percorrido em aproximadamente três quartos de hora.

Jesus chega ao Gólgota, o “local dos crânios”. Por que esse nome? “(…) O ponto principal da crucificação era humilhar a vítima e assustar as testemunhas, com o cadáver deixado pendurado para ser comido pelos cães e bicado até os ossos por aves de rapina. Os ossos seriam então jogados em uma pilha de lixo [por trás do espaço das cruzes] (ASLAN, 2013: 175).  A família de Jesus, através da influência política de José de Arimatéia, recebeu uma “cortesia” de Pilatos que, excepcionalmente, autorizou a retirada do corpo da cruz (Jo 19:38).

 

SÃO NOVE HORAS DO DIA

MEU IRMÃO SE MUDOU

O SONO DA ETERNIDADE

DEUS DO CÉU QUEM TE CHAMOU

 

Há contradição entre os Evangelhos canônicos sobre a hora em que Jesus foi crucificado. Utilizo a referência de Marcos (nove horas) por se adaptar justamente ao hino, além de ser considerado atualmente o primeiro Evangelho a ser escrito (por volta de 70 d.C.) após as epístolas de Paulo, primeiro autor da compilação denominada Novo Testamento, inaugurando sua obra teológica com 1 tessalonicenses, escrita entre 49 e 50 d. C.  (BROWN, 2012: 190; BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002: 1956-57).

 

TANTOS ANOS QUE VIVESTE

NO MUNDO DA ILUSÃO

EU ROGO A DEUS DO CÉU

QUE TE DÊ O SANTO PERDÃO

 

“Consumado pelos sofrimentos, ele se tornou o princípio da vida” (Anastácio de Antioquia (LIMA, 2017: 48)).

Pregado na cruz, sofrendo as agonias da morte, a compaixão eterna da alma sobrepuja a dor efêmera do corpo e predica a vitória do amor: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23: 24).

 

A DIVINA ESTRELA VEM

PARA IR TE ALUMIAR

EU ROGO A DEUS DO CÉU

QUE TE BOTE EM BOM LUGAR

 

Surge a voz de Dimas, arfante: “Lembra-te de mim quando entrares em teu reino” (Lc 23: 42). Jesus afiança, arquejante: “Em verdade te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23: 43), ou nesta paráfrase: “Eu rogo a Deus do céu que te bote em bom lugar”. Mas antes de entregar o Espírito, Jesus declara sua última ordenação: entroniza sua mãe Maria como a Mãe da Humanidade ao confiá-la em grande símbolo ao Discípulo Amado…

 

A VIRGEM SENHORA VEM

PARA IR TE ACOMPANHAR

EU ROGO À VIRGEM MÃE

QUE TE BOTE EM BOM LUGAR

 

 “- Mulher, eis aí teu filho; filho, eis aí tua mãe!” (Jo 19: 26,27). Revela-se o mistério do “meu Irmão”: sua mãe é minha; sua mãe é nossa… Senhora das Dores – disse o profeta Simeão à Maria: “E a ti, uma espada traspassará tua alma!” (Lc 2, 35). Tende piedade de nós! Amém.

 

APÊNDICE: AS 14 ESTAÇÕES DA VIA-SACRA

 

INTRODUÇÃO

Segundo a doutora Renata Nascimento, “Até o final do século XV o caminho até o Calvário foi se convertendo em uma peregrinação ritualizada, em uma forma de penitência, para que o cristão pudesse presenciar, participar, sentir a mesma dor do próprio Cristo. No início eram apenas sete estações, sendo no fim da era moderna (século XVII) ampliada para 14 estações . As últimas quatro encontram-se atualmente na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. O marcante simbolismo da Via Dolorosa converteu-se em um percurso sagrado” (NASCIMENTO, 2019: 28).

 

AS ESTAÇÕES (NEWMAN, 2016: 5-6):

PRIMEIRA – Jesus é Condenado à Morte;

SEGUNDA – Jesus Recebe a Cruz;

TERCEIRA – Jesus Cai a Primeira Vez;

QUARTA – Jesus Encontra Sua Mãe;

QUINTA – Jesus é Auxiliado por Simão de Cirene a Carregar a Cruz;

SEXTA – Jesus é Confortado por Verônica;

SÉTIMA – Jesus Cai a Segunda Vez;

OITAVA – Jesus Conforta as Mulheres de Jerusalém;

NONA – Jesus Cai a Terceira Vez;

DÉCIMA – Jesus é Despido de Suas Vestes;

DÉCIMA PRIMEIRA – Jesus é Pregado à Cruz;

DÉCIMA SEGUNDA – Jesus Morre na Cruz;

DÉCIMA TERCEIRA – Jesus é Descido da Cruz e Entregue à Maria;

DÉCIMA QUARTA – Jesus é Sepultado.

 

REFERÊNCIAS:

AMÉM. Dicionário da Língua Portuguesa. In. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2009;

ASLAN, Reza. Zelota: a vida e a época de Jesus de Nazaré. Rio de Janeiro: Zahar, 2013;

BENSION, Ariel (Org.). O Zohar: O Livro do Esplendor. São Paulo: Polar, 2006;

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém: Nova Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Referência Thompson: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Vida, 2007.

BÖSEN, Willibald. Ressuscitado Segundo As Escrituras: Fundamentos Bíblicos da Fé Pascal. São Paulo: Paulinas, 2015;

BROWN, Raymond. A Morte do Messias: Comentários das Narrativas da Paixão nos Quatro Evangelhos, volume 2. São Paulo: Paulinas, 2011;

_________. Introdução Ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2012;

CROSSAN, John Dominic. Quem Matou Jesus? As Raízes do Antissemitismo na História Evangélica da Morte de Jesus. Rio de Janeiro: Imago, 1995;

DUNN, James D.G. Jesus, Paulo e os Evangelhos. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2017;

JACCOUD, Sebastião. O Terceiro Testamento: um fato para a história. Goiânia: Página Um, 1992;

LIMA, Danilo Alves (Org.). Santo Exercício da Via-Sacra: com meditações dos Padres da Igreja. São Paulo: Paulus, 2017;

MAIA NETO, Florestan J. Contos da Lua Branca – Vol1. Rio Branco, AC: Fundação Elias Mansour, 2003;

MUDAR. Dicionário da Língua Portuguesa. In. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2009;

NASCIMENTO, Renata Cristina de Sousa. A Memória em Trânsito: Uma Leitura da Via Sacra Enquanto Construção Coletiva. Sæculum – Revista de História, v. 24, nº 41, p. 24- 34, 2019;

NEWMAN, John Henry. Via Sacra: meditações sobre as estações da Cruz. São Paulo: Cultor de Livros, 2016;

PALMA, Rodrigo Freitas. O Julgamento de Jesus Cristo: aspectos histórico-jurídicos. 3ª ed. Curitiba: Juruá Editora, 2011;

RIBEIRO, Victor Pereira. O Julgamento de Jesus Cristo Sob a Luz do Direito. São Paulo: Editora Pillares, 2010;

TABOR, James D. A Dinastia de Jesus: A História Secreta das Origens do Cristianismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006;

VERMES, Geza. As Várias Faces de Jesus. Rio de Janeiro: Record, 2006.

                                

 

 

Respostas de 19

  1. Excelente análise litúrgica e o Mestre irradia essa Luz Cristica que emanou da presença deles (Cristo e Irineu) nessa Terra que ambos receberam de forma diferente da nossa Virgem adorada e imaculada Mãe Maria Santíssima!!

      1. Muito gratificante e emocionante ler esse texto. Parabéns querido amigo sempre com sua divina sabedoria. Gratidão por seus estudos sempre a nós elucidar. Um beijo no coração Feliz páscoa!!!

  2. Magnífico trabalho li gostei e por sinal natural, me uni a missão do mestre Irineu, a de levar o amor por onde for passar e deixar o amor ficar !!!

    1. Eu também agradeço seu apoio e consideração, que me servem de incentivo! Grande abraço fraterno desde Cruzeiro do Sul, AC, Brasil 💜

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