Salmo 10: Parto de Sofia

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Apodera-se do mundo e perde o céu,

Ao fascinar-se por enganosa riqueza,

Maisquer espelhos a amar a natureza.

Saltitando na Lua celebrou a loucura,

Asfixia o mar para em Marte ir respirar.

O homem bafeja uma grande ignorância

Ao muito falar do que supostamente sabe,

Aparentando bondade maquia a ruindade,

Os miseráveis enaltecem-lhe a piedade,

O contrapeso sustentando a politicagem.

Entre sorrisos pontuais escapa a tristeza,

Duvidando o homem afirma uma certeza.

Ao suplicar por paz denuncia sua guerra,

Adestram seus filhos a vencerem na vida,

Caso não se matem por cobiça desmedida.

Trai a solitude ao flertar com a multidão,

A liberdade é um retrato desbotado,

Dependurado na cela de uma prisão,

E a felicidade é um porto além-mar

Onde almas errantes pensam ancorar.

Ao fazer amor o homem ainda odeia,

No olhar apaixonado o cego devaneia…

Crimes passionais dão ibope nos jornais,

Violência é audiência no reflexo da tevê,

Cidadania à margem da neurose coletiva.

Na dimensão da luz se pode contemplar

A amplitude devastadora da escuridão:

Proclamam Deus e sinceros são os ateus,

O vociferar lancinante traduz-se em surdez,

É mistério calar para ouvir a voz da lucidez.

Quando o amor acontece a contradição esvanece,

Na beatitude ausenta-se no profundo a superfície,

Na saciedade rende-se ao vazio o que estava cheio.

O dualismo cede à verdade no homem que renasce:

Virgem é o que não se dissociou no fruto redentor!

 

 

 

Nota: poesia com registro autoral em nome de Florestan Japiassú Maia Neto.

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