Preservada a grafia original do hino (sem correção ortográfica).
SANTA ESTRELA QUE ME GUIA
VÓS ME DÊ A SANTA LUZ
OS TRÊS REIS DO ORIENTE
QUE VISITARAM JESUS
Segundo a grafia da Bíblia de Jerusalém, 2002: “(…) Ao entrar na casa [os três reis], viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se [humildaram-se] o homenagearam. Em seguida, abriram [revelaram] seus cofres [o que está oculto por seu valor] e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2, 11. Colchetes meus).
Após a primeira estrofe (versículo), que atesta a visita dos magos, este hino traz na sequência mais quatro versículos, todos associados aos presentes ofertados, pois de acordo com os exegetas da Bíblia supramencionada, “Para os Padres da Igreja simbolizam a realeza (o ouro), a divindade (o incenso) e a paixão (a mirra) de Cristo” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002: 1705. Nota “g”.)
ALUSÃO AO INCENSO (A DIVINDADE)
VIVA DEUS LÁ NAS ALTURAS
VIVA A NOITE DE NATAL
VIVA O DONO DESTE DIA
QUE NÓS VAMOS FESTEJAR
JÁ FAZEM MUITOS ANOS
QUE MEU JESUS NASCEU
VAMOS TODOS COM ALEGRIA
FESTEJAR AO SENHOR DEUS
O uso do incenso é um símbolo universal de adoração a Deus – “Viva Deus lá nas alturas”, “Vamos todos com alegria festejar ao Senhor Deus” – presente, por exemplo, no Livro dos Salmos 141: 2: “Suba minha prece como incenso em tua presença, minhas mãos erguidas como oferta vespertina!”. O incenso instiga a meditar em sua queima e fumaça. Quando o Daime faz efeito, a “sagrado fogo” vai calcinando a matéria e o elemento espiritual vai se desprendendo. Dissolve-se a densidade manifestando a essencial volatilidade. Louvamos mais conscientes – “Viva Deus lá nas alturas”, “Viva o dono deste dia”, “Vamos todos com alegria festejar ao Senhor Deus…” – quando nos transformamos quais incensos: o “corpo” torna-se pó, enquanto “o espírito” imiscui-se no etéreo – “Reduzi meu corpo em pó/O meu espírito entre flores…” sintetiza a poesia alquímica do hino 33: 3.
ALUSÃO À MIRRA (O SOFRIMENTO)
MEU DIVINO SENHOR DEUS
A VÓS EU VOU PEDIR
VÓS NOS DÊ O VOSSO CONFORTO
PARA TODOS NÓS SEGUIR
Os judeus tinham a mirra como um bálsamo valioso, principalmente por não crescer na Palestina, sendo necessário importá-la (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2002: 1095. Nota “g”). O Evangelho atribuído a João revela que a mirra foi usada nos preparativos para sepultar o corpo de Jesus (19: 38-40). O biblicista Raymond Brown, especialista nesse Evangelho, regressa ainda mais no tempo afirmando que “Esmirna ou ‘mirra” é uma resina odorífera usada pelos egípcios em embalsamamentos” (BROWN, 2020: 1399. Vol. 2.). Essa planta preciosa e amarga é um símbolo do Homem e seu sofrimento de morte, que nos conforta com a Vida de seu sangue sagrado na tribulações do caminho iniciático: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9: 23) – “Vós nos dê o vosso conforto para todos nós seguir”!
ALUSÃO AO OURO (REALEZA E SABEDORIA)
A SEMPRE VIRGEM MARIA
É QUEM VEM NOS ENSINAR
PARA NÓS CANTAR COM AMOR
NESTA NOITE DE NATAL
A correlação justifica-se pelo simbolismo do ouro quando citado em matérias espirituais. Alegoriza realeza (“A sempre Virgem Maria”) e sabedoria (“É quem vem nos ensinar.”). Diz o Apocalipse 3:18: “Aconselho-te a comprares de mim ouro purificado no fogo para que enriqueças…” À qual riqueza o versículo se refere? Na tradução Almeida contemporânea: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas insondáveis de Cristo” (Efésios 3: 8). E a Epístola prossegue, agora na tradução da Bíblia de Jerusalém: “E de pôr em luz a dispensação [partilha] do mistério oculto desde os séculos em Deus, criador de todas as coisas” (Ef 3: 9). Na versão atualizada e ocultista do Verbo de Deus: “O ouro que tem na terra é a luz que brilha mais” (Hino Laranjeira, 60: 4)).
E no último testemunho visionário do baluarte Antônio Gomes da Silva: “Eu nunca vi neste mundo/Tão importante tesouro/Aonde brilha todas estrelas/Bem chuviscadas de ouro” (Amor Divino, 39: 9). Esse tesouro anunciado no hino Este Rei Que Aqui Está é a sabedoria do Mestre herdada da Mãe Divina – “Ele veio para ensinar/Neste mundo universal/Para todos nós trabalhar/Para a vida espiritual” (39:4). Ensinar a consciência que gera lealdade, firmeza e verdade (39: 5-6) -, frutos do “ouro purificado no fogo” apocalíptico: “O nosso rei onde reside/É um palácio de nobreza/Não tem com quem se compare/Esta divina pureza” (39:7).
Celebremos o (re) nascimento (natalis) daquele que, ao Exilado de Patmos, anunciou sua volta com um “novo nome” (Ap 3: 12). Viva Juramidã! Amém.
Arte: prezada Thálita Vanessa Pinheiro.
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NOTA: grafia do hino 39 de Antônio Gomes da Silva de acordo com a zeladora Adália Gomes, confirmada esta semana por sua filha e amiga Nazaré Granjeiro.
REFERÊNCIAS:
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém: Nova Edição, Revista e Ampliada. São Paulo: Paulus, 2002;
BÍBLIA. Português. Bíblia de Referência Thompson: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Vida, 2007;
BROWN, Raymond. Comentário ao Evangelho Segundo João Volume 2 (13-21). Santo André: Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2020.