Hino 7 – Dois de Novembro

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on whatsapp
WhatsApp

 

A TUA ALMA ENTREGA A DEUS

E O TEU CORPO À TERRA FRIA

JESUS TE ACOMPANHE

JUNTO COM A VIRGEM MARIA.

 

“(…) O pó volte a terra de onde veio e o sopro volte a Deus que o concedeu. Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Eclesiastes 12:7-8);

“E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lc 12: 19-21).

A companhia de Jesus através da Virgem Maria é afiançada pelo Mestre em sua na última ordenação ante o ápice da suprema humilhação: “(…) Disse a sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. (…) Disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”. Desde essa hora o discípulo a levou em sua companhia…” (Jo 19: 26-27).

 

TU PEDES AOS TEUS AMIGOS

PELO NOME DE JESUS

QUE TE REZEM UMAS PRECES

LÁ NO PÉ DA SANTA CRUZ

 

Há os amigos que deixamos na terra e os que nos recebem no outro mundo. O pedido do viajante requer de antemão um mínimo de consciência espiritual sobre a importância de uma prece, ou nas palavras do Evangelho Segundo o Espiritismo – Edição Antirracista: “As preces pelos espíritos que acabam de deixar a terra não objetivam, unicamente, dar-lhes um testemunho de simpatia; também tem por efeito auxiliá-los no desprendimento e, desse modo, abreviar a perturbação que sempre acompanha a separação, tornando-lhes mais calmo o despertar” (KARDEC, 2022: 330).*(vide nota).

 

TANTOS ANOS QUE VIVESTES

AGORA VAIS SE RETIRAR

VAI ATENDER AO NOSSO PAI

FOI QUEM MANDOU TE CHAMAR

 

Quando cientes da clausura do corpo, a voz da morte é o chamado da Vida. O Todo que estende a centelha anímica à densidade também a recolhe ao éter. O célebre escritor francês Victor Hugo, contemporâneo e simpatizante da doutrina kardecista que se iniciava, filosofa seu testemunho de fé espírita: “Eu digo que o túmulo que sobre os mortos se fecha abre o firmamento, e aquilo que aqui embaixo acreditamos ser o fim é o começo” (MAIOR, 2014: 48).

 

AQUI ACHOU, AQUI DEIXOU

LEVAS CONTIGO O AMOR

AS PORTAS DO CÉU SE ABREM

PARA QUEM FOR MERECEDOR

 

“Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os destroem, onde os ladrões penetram e os roubam…” (Mt 6: 19); “(…) Ninguém pode servir a dois senhores; ou odiará um e amará a outro; ou respeitará a este e desprezará aquele. Não podeis servir a Deus e as riquezas” (Mt 6: 24). A Segunda Verdade Nobre de Buda ensina que o apego é a fonte de todo sofrimento (MILLER, 2006: 29).

* NOTA: tem estado em voga uma censura e um boicote a Alan Kardec em decorrência de uma visão racista presente em sua obra. A referência mais contundente é o artigo intitulado A Perfectibilidade da Raça Negra publicado na Revista Espírita em abril de 1862, na qual Kardec classifica os negros como “raça inferior; isto é, primitiva”. Detentor de um intelecto privilegiado, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, antes do chamado dos “espíritos” era um cético que se tornou muito conhecido na França por seus livros pedagógicos. Em 2020, o movimento Espíritas à Esquerda lançou o clássico O Livro dos Espíritos em uma “Edição Antirracista”, e em 2022, o fez com O Evangelho Segundo o Espiritismo. No prefácio deste, os editores sinalizam aonde pretendo chegar: “Evidentemente, entendemos que o vocabulário das obras de Allan Kardec expressa os costumes de um sujeito sócio-histórico, para o qual o ponto de vista é a cultura eurocêntrica. Ademais, lembramos que a escravização de pessoas negras permaneceu na França até 1848”.

Kardec, que nunca se intitulou “mestre espiritual” ou “dono da verdade”, era um ser humano em evolução como todos nós. Rechaçar sua estupenda obra de revelação espírita por seu racismo estrutural é desconhecer, dentre outros aspectos, a influência que a época exerce sobre os arautos das boas-novas espirituais, evidenciando uma espécie de “síndrome de anacronismo”. Um exemplo clássico é a proclamação misógina, escravocrata e homofóbica de Paulo de Tarso, respectivamente em 1 Coríntios 14, 34-35; Colossenses 3, 22, e Romanos 1, 26-27.  Vamos rasgar a Bíblia ou torná-la inútil em seu bojo?! De mais a mais, n’O Cruzeiro, Mestre Irineu declara: “Todos querem ser irmãos/Mas não tem a lealdade/Para seguir na vida espírita/Que é o reino da verdade” (124: 1). Onde está embutido e esmiuçado – não sem antes sofrer as agruras da perseguição – o sobejo fundamento doutrinário precedente para que consideremos a “vida espírita” como “reino da verdade”? Esse vínculo é o cumprimento de uma mensagem profética recebida por Kardec e divulgada um ano antes de seu desencarne, afirmando ser o espiritismo a doutrina que precederia a chegada do Messias (MAIOR,  2014: 326).

 

A DOUTRINA DA IMORTALIDADE DA ALMA: DE HOMERO A JURAMIDÃ (PARTE I)

 

INTRODUÇÃO

Situo o leitor na Grécia Antiga por sua grande influência na vida do Ocidente: “Todas as ciências político-sociais, físicas, biológicas, bem como a maior das ciências, a filosofia, ali brotaram, cresceram e se espalharam pelo mundo, e assim tornaram-se sólidas as bases do conhecimento humano no âmbito da política, arte, literatura, ciência e religião” (ZIKAS, 1990: 7). Mas não seria possível prosseguir sem mencionar, brevemente, a divina terra de Aquenáton (Amenhotep IV), seu famoso filho Tutancâmon e a ícone feminista Cleópatra VII Filopátor, pois “No Egito Antigo, por volta de 3100 a.C., é onde se encontrou a primeira ideia sobre a imortalidade da alma. A vida futura, entre outros temas ligados à questão de estar vivo e de existir depois da morte, é parte central do Livro dos Mortos (cujo nome verdadeiro é Saída Para a Luz do Dia), considerado o primeiro livro da humanidade” (PEREIRA, 2010: 41). Segundo o autor da Introdução na tradução da obra egípcia para o inglês, John Baldock, “O Livro dos Mortos desenvolve-se a partir de uma longa tradição de textos funerários, cujos primeiros exemplos são conhecidos como os Textos das Pirâmides” (BUDGE, 2023: 8). O propósito desses textos “(…) Era ajudar o faraó morto a conquistar seu lugar entre os deuses; para esse fim, eles incluíam hinos, orações e encantamentos mágicos para afastar os perigos encontrados na vida após a morte” (Ibidem, p. 8).

 

HOMERO

Tornando à Grécia, inicio com Homero, cujo adjetivo “homérico” transformou-se em sinônimo de “grandioso, enorme, extraordinário”, e cuja obra Odisseia passou a significar longas viagens ou aventuras, normalmente singulares ou, ainda, uma travessia de caráter intelectual ou espiritual. Segundo o filósofo, matemático e historiador Bertrand Russell, Homero foi “O primeiro fruto notável da civilização helênica” (RUSSELL, 215: 32). Entretanto, para surpresa de muitos, “(…) Há uma posição amplamente aceita segundo a qual fora ele não um indivíduo, mas uma série de poetas”, pois segundo essa teoria, “(…) Entre a redação completa da Ilíada e da Odisseia foram necessários cerca de duzentos anos [750 a 550 a. C.]” (Ibidem, p. 33). O fato marcante é a importância que suas obras alcançaram na sociedade grega: “(…) A juventude ateniense passou a conhecer Homero de cor, sendo essa a principal parte de sua educação” (Ibidem, p. 33).

Contudo, em relação a imortalidade da alma, “Na escatologia grega mais arcaica e tradicional apresentada na Ilíada e na Odisseia, a morte é compreendida como o fim definitivo da vida humana: a alma – a psychê –, após a morte, desce ao Hades como uma sombra inconsciente, sem possibilidade de renascimento ou salvação” (FERNANDES & MIRANDA, 2019: 70-71). A juventude citada por Russell pertencia a aristocracia ateniense, detentora do poder que determinava as regras do jogo social, inclusive em relação às crenças religiosas, configurando uma ortodoxia que, em relação à morte, nos poemas homéricos tinha uma grande referência. Contudo, algumas almas audazes entre a plebe marginalizada, eram capazes de experenciar a eternidade da alma nos cultos a Dionísio (Baco), o deus do vinho. Segundo a filósofa Margarida Nichele Paulo, o culto dionísico foi o embrião para a construção da doutrina grega da imortalidade da psychê [alma] (PAULO, 1996: 23).

Uma exposição dessa celebração cultual foi imortalizada no século V a. C. pelo célebre poeta trágico grego Eurípedes em As Bacantes: “Ó feliz, bem-aventurado aquele que conhecendo os mistérios divinos, sua vida santifica, sua alma efervesce, pelos montes dançando com Baco, purificando com os ritos místicos, e de Cibele, Mãe Suprema, as orgias celebra e a Dionísio serve…Ide Bacantes!” (EURÍPEDES, 2010: 21). Enebriadas, as mênades ou bacantes (sacerdotisas de Baco) exultavam gritando “evoé!”, o brado orgiástico. Frise-se que, a palavra “orgia”, não tinha a conotação pejorativa moderna, mas “(…) Era utilizada pelos órficos no sentido de “sacramento” e tinha como objetivo purificar a alma do crente e permitir-lhe escapar da roda do nascimento” (RUSSELL, 2015: 47). Ou nesta tradução contextual: “posse do divino; comunhão com o deus” (PAULO, 1996: 24).

A autora, filósofa, indica claramente que o conceito de enteógeno (“deus dentro”) – que atribuímos ao próprio Daime – estava presente entre os órficos, embora tenha sido atribuído a Gordon Wasson (autoridade em cogumelos psicoativos) a cunhagem do termo. Juntamente a Albert Hofmann (descobridor do LSD) e Carl Ruck justificou o porquê do nome na primeira edição do clássico livro The Road to Eleusis (O Caminho para Eleusis), publicado em 1978. Segundo os autores, “Em grego, entheos significa literalmente “deus (theos) dentro”, uma palavra que se utilizava para descrever o estado em que alguém se encontra quando está inspirado e possuído pelo deus que está em seu corpo. Se aplicava aos transes proféticos…” (WASSON, HOFMANN & RUCK, 2013:202). Acerca desses transes órficos eleusinos, por vezes causados pela bebida enteógena kykeon, Margarida Nichele Paulo esmiuça: “(…) O ékstasis era uma parte da integração com o deus, porque, ao “sair de si”, implicava na verdade, um mergulho no deus Dionísio e, deste, no seu adorador, pelo processo do enthusiasmós, de éntheos, isto é, “animado de um transporte divino”: o termo provém de en, “dentro, no âmago”, e theós, “deus”. Isso significa: o entusiasmo é estar com deus, identificar-se com ele, coparticipar da divindade” (PAULO, 1996: 24). Mas, afinal, quem foram os órficos e qual a sua importância na evolução da doutrina da imortalidade da alma, a ponto de influenciarem Pitágoras, Sócrates e Platão, inclusive ecoando suas premissas, como veremos à frente, nos hinos da base doutrinária daimista?

 

O ORFISMO

Esse movimento religioso provém do lendário músico, poeta e profeta Orfeu, cuja existência não é consenso. Segundo a professora Isabela Fernandes em seu artigo As Representações da Morte Nos Poemas de Homero e no Orfismo, este “(…) Embora jamais tenha se unificado em uma religião definida e sistematizada, se estabelece na Grécia como uma seita marginal divergente da religião olímpica oficial. O Orfismo traz a ideia de que a alma é imortal e que, após a morte, ela desce às trevas do Hades apenas por um breve tempo para depois reencarnar em outro corpo vivo” (FERNANDES & MIRANDA, 2019: 70-71). Segundo o teólogo e filósofo Urbano Zilles, citando o filósofo Giovani Reale, graças ao orfismo é que “Começa-se a falar da presença no homem de algo divino e não mortal, que provém dos deuses e habita no próprio corpo, de natureza antitética à do corpo, de modo que este algo só é ele, mesmo quando o corpo dorme ou se prepara para morrer e, portanto, quando enfraquecem os vínculos com ele, deixando-o [a alma] em liberdade” (ZILLES, 2003: 605). O filósofo espanhol Alberto Bernabé, especialista em orfismo, conceitua esse movimento religioso como “(…) Um tipo de religião pessoal, baseada em alguns textos, com um marco de referência: o dualismo entre alma imortal e corpo mortal, o pecado anterior, o ciclo de transmigrações, a liberação da alma e sua salvação final. Ao responder às necessidades de consolo e salvação individual, esta religião sem dogmas e igrejas, que se abriria livremente não importava qual o usuário, permitia que cada um encontrasse nela o que buscava” (BERNABÉ, 2011:  24-25).

 

MESTRE IRINEU, GERMANO GUILHERME E O REPLANTE DE DOUTRINA ÓRFICA

Graças a excelente obra do filósofo Bertrand Russell, História da Filosofia Ocidental, publicada em português em três volumes, identifiquei o replante de doutrinas órficas  – mais de dois mil e quinhentos anos depois! – no Daime através dos hinários O Cruzeiro e Sois Baliza. Refiro-me ao grande mistério “Barum, marum mais eu” estudado pormenorizadamente na intepretação do hino 6, Papai Paxá (publicada neste site). Mestre Irineu introduz a charada, mas é através de seu discípulo primaz, Germano Guilherme, que essa cabala é destrinchada e aprofundada, como por exemplo no hino 36, 1: “O mar cresce e a terra baixa/Em diversas partes do Universo/Os filhos que habitam nela/Reclamam sair da terra”. No estudo do hino em questão, teorizei exaustivamente o mar metaforizando o “espírito”, e a terra, a “matéria/corpo”. E o que diz o ensino órfico em incrível sintonia? “O homem, diziam, é parte terra, parte céu; levando uma vida pura, a parte celeste cresce e a terrestre se reduz(RUSSELL, 2015: 40. Vol. 1)!

O “crescer” (subir) e o “baixar” (descer) do hino de Germano expressa claramente o antagonismo órfico entre o espírito/alma e o corpo, ou nas palavras da filósofa interpretando a obra de Platão influenciada por essa doutrina: “O sôma (corpo) encontra-se em oposição à psychê. (…) Assim, a morte do sôma significa, para a psychê, a abertura para a verdadeira vida. Então, a psychê buscar fugir do mundo terreno, tornar-se virtuosa e assemelhar-se ao divino” (PAULO, 1996: 57-58).

Destarte, em “O mar cresce e a terra baixa em diversas partes do universo”, pressupomos a natureza do espírito opondo-se à natureza da matéria (a alma sobe aos céus e o corpo findará descendo à sepultura); “Em diversas partes do universo”, porque o Uno/Uni (Deus) e o verso (criaturas) são diversos que se juntam e separam continuamente na manifestação do nascer (criação) e morrer (aniquilação) do processo cíclico existencial. O “separar” ou “estar separado” é uma aparência a partir da perspectiva do mundo sensível, que pode experienciar o Inteligível através da Alma (Psychê) do Mundo (A Força) atuante na consciência (psiquê) individual, elo da universidade, religare, religação, religião. A psychê individual consciente de sua imortalidade é o que Platão denomina em A República, de “homem interior” (PLATÃO, 2005: 289). Esse homem por excelência já não é mais o verso (acepção oposto) na criação, e sim o verso (acepção poesia) do Criador! O que é o despertar da consciência senão um lindo poema? Os hinos daimistas ouvidos ao som da lira de Orfeu. Evoé!

 

PITÁGORAS

No século VI a. C., na ilha grega de Samos, nascia um dos maiores gênios da humanidade. Pitágoras “(…) Debruçou-se sobre quase a totalidade do conhecimento de sua época (Filosofia, Matemática, Geometria, Música, Ética, Moral, Educação, Higiene), legando-nos estudos, conceitos, aforismo e teoremas que, englobados sob o nome genérico de pitagorismo, exerceram profunda influência na cultura grega… Essa influência estendeu-se a todas as Ordens Iniciáticas do mundo ocidental (Templários, Rosacruzes e Maçons), por meio de seus mais ilustres e renomados escritores…” (CONTE, 2004: 9-10). Segundo o historiador e filósofo William K. C. Guthrie, “Pitágoras foi o primeiro que usou a palavra ‘filosofia’, e chamou a si mesmo de filósofo, isto é, amante da sabedoria” (in: PAULO, 1996: 30). Em relação ao tema proposto, dando sequência àquilo que estudávamos,  segundo o filósofo Ângelo Balbino Soares Pereira, “O pitagorismo se aproxima, em muitos aspectos, do orfismo, com relação ao dualismo psychê-soma, a doutrina na imortalidade da psyché, à punição no Hades [“inferno”], à glorificação final da psyché nos Campos Elíseos [“céu”], ao vegetarianismo, ao ascetismo e a importância das purificações” (PEREIRA, 2010: 57).

Segundo Bertrand Russell, Pitágoras foi um reformador do orfismo, deste absorvendo características como o feminismo em uma Grécia machista: “Na sociedade que fundou, homens e mulheres era admitidos nas mesmas condições; a propriedade era comum, bem como o estilo de vida” (RUSELLL, 2015: 42; 58). E, evidentemente, corroborando a crença na alma imortal. O filósofo neoplatônico Porfírio de Tiro (Séc. III d. C.), em sua obra Vida de Pitágoras, afirma que ele foi o primeiro a transmitir a imortalidade e a transmigração da alma em forma de dogmas à Grécia (PORFÍRIO, 2021: 47). Da tese de mestrado de Ângelo (citado acima), A teoria da Metempsicose Pitagórica, seleciono alguns conceitos básicos acerca dos ensinamentos do Mestre Sâmio sobre o tema ora estudado:  “(…) O que sobrevive à aniquilação do soma [corpo] é o verdadeiro vivo. A existência do homem na terra é apenas uma passagem, uma temporalidade, é só uma de suas vidas possíveis. (….) Por isso, a psyché se purifica e desenvolve, tomando consciência de que o soma é um óbice para a sua ascensão, que é o seu destino final” (PEREIRA, 2010: 58). Nesse ponto, o da purificação da alma, que os gregos chamavam de kátharsis, a doutrina de Pitágoras sintoniza-se à liturgia daimista no que tange à musica considerando que, “A música tinha, no pitagorismo, uma função catártica fundamental para provocar uma quietude nas paixões e elevar a psychê a perceber a harmonia das coisas. Libertar-se das paixões do soma é um pensamento originalmente pitagórico” (Ibidem, p. 61). Ainda sobre a obra de Mestre Irineu, encerro esse subtítulo aludindo a um atributo comum aos genuínos mestres espirituais: “Pitágoras falava pouco e ouvia muito, e essa é outra característica do homem de gênio…” (CONTE, 2004: 29). O Cruzeiro subscreve: “As estrelas me disseram/Ouve muito e fala pouco/Para poder compreender/E conversar com meus caboclos” (75: 4).

 

TRIBUTO A SÓCRATES

Chegamos ao denominado Período Socrático, o segundo da Filosofia Antiga, no qual surgiram vultos como Aristóteles e o próprio Sócrates, que através de seu discípulo Platão, legou-nos saberes acerca da doutrina da imortalidade da alma. Como Jesus, Sócrates nada escreveu. Tal qual Jesus, denunciou a hipocrisia e os farsantes da sociedade vigente; foi acusado de malfeitor e de corromper a juventude atraindo para si a hostilidade dos poderosos. O historiador especialista em Grécia Antiga, Josiah Ober, traz à tona com exatidão as acusações do promotor voluntário Mileto, prefigurando 400 anos depois, Caifaz diante do Sinédrio: “Sócrates comete um malefício criminoso (adikei) por não reconhecer (ou nomizon) os deuses que a pólis reconhece (nomizei), além disso por introduzir novas divindades (daimonia); ele também comete um malefício criminoso por corromper (diaphthairon) os jovens (neous)” (OBER, 2016: 188).  Após um julgamento injusto por um tribunal popular composto por 501 cidadãos atenienses escolhidos aleatoriamente, do mesmo modo que Jesus, em 399 a. C., Sócrates foi condenado à morte. A pena capital determinou que o réu ingerisse com suas próprias mãos o veneno cicuta, não sem antes permanecer na prisão acorrentado pelos tornozelos até o dia fatídico. Nas palavras de Bertrand Russell: “Decidiu-se, porém, que era mais fácil silenciá-lo por meio da cicuta do que curar as mazelas que ele se queixava” (RUSSELL, 2015: 120).

Sócrates era um asceta que se vestia com andrajos e caminhava descalço pelas ruas, terminando seus dias em extrema pobreza (Ibidem, p. 123, 128). Quatro séculos depois, o Mestre galileu filosofava: “Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro. Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir…” (Mt, 6: 24, 25). Encerrando com a típica dialética difundida por Sócrates, ou seja, o método de buscar o conhecimento por meio de perguntas e respostas: “Não é a vida mais do que alimento e o corpo mais que a roupa?” (Mt, 6: 25).

Tal como Jesus, Sócrates foi um iogue avançado: “Sua indiferença ao calor e ao frio, à fome e à sede, impressionava a todos” (RUSSELL, 2015: 128). Seus arroubos extáticos foram registrados na obra platônica O Banquete: “Esse Sócrates retirou-se em frente dos vizinhos e parou. Já o chamei várias vezes, mas ele não quer entrar. (…) Deixai-o. É um hábito dele: às vezes retira-se onde quer que se encontre, e fica parado” (PLATÃO, 2020: 9). O comentarista da obra anota: “O verbo retirar-se, aqui, corresponde ao hábito de Sócrates, contado por seus contemporâneos, de parar de repente e, absorto nos próprios pensamentos, a nada e a ninguém dar atenção. Parecia “retirar-se” da realidade e entrar num mundo só dele” (Ibidem, p. 9). Sócrates revela na obra Fédon, o clássico de Platão sobre a imortalidade da alma, como os sentidos não podem revelar a verdade: “Mas ela [a alma] raciocina melhor quando nenhuma destas coisas a perturba, quer a audição quer a visão, quer a dor quer o prazer, estando ela sim, tanto quanto possível, sozinha e isolada, apartada do corpo e evitando, na medida do possível, toda associação ou contato com o corpo, na sua busca da realidade” (PLATÃO, 2012: 24). Prosseguindo na comparação a Jesus, na iminência de seu suicídio compulsório, Sócrates, divinamente amoroso, bendiz o constrangido carrasco que trazia, por obrigação, a taça fatal: “Que pessoa encantadora!” (PLATÃO, 2012: 140).

Por todas essas “coincidências”, no Evangelho de Tomé, dito 13, Jesus pergunta aos discípulos: “Com quem me comparais? Dizei-me com quem me pareço?” Dentre outra respostas, Mateus profere: “Tu és semelhante a um sábio filósofo” (O EVANGELHO DE TOMÉ, 2004: 18). Em verdade, estaria o apóstolo revelando uma das memoráveis encarnações do Mestre nazareno? Há quem dê fé, como eu, a essa hipótese.  A lei da reencarnação – capítulos de vivência terrena da alma imortal -, da qual o espírito de Jesus não escapou apesar da mistificação católica romana, abarca a doutrina da reminiscência, à qual o método socrático estava em harmonia ao se basear no fato de que “(…) Nós aprendemos por meio da recordação do que sabíamos desde uma existência anterior” (RUSSELL, 2015: 130). À frente estudaremos a doutrina da reminiscência como uma das provas socráticas-platônicas da imortalidade da alma.

 

PLATÃO

Segundo o filósofo Paulo Ghiraldelli Júnior, “Um dia antes de conhecer Platão (428-348 a. C.), Sócrates sonhou que um cisne havia pousado em seus joelhos. Na tradição grega, o cisne era o “pássaro de Apolo”” (GHIRALDELLI JR., 2011: 9). Na tradição dos santos iogues indianos, o cisne simboliza o mais alto grau de realização, o de Paramahamsa, que significa “Cisne supremo…Um Paramahamsa é uma pessoa realizada que alcançou o estado supremo do yoga (nirvikalpa samadhi) e é capaz de distinguir o Real (sa) do irreal (ham)” (HARIHARANANDA, 2006: 303). Como dito acima, Sócrates nada escreveu, “(…) E o que conhecemos do seu filosofar, em boa medida (mas não tudo!) devemos a Platão” (GHIRALDELLI JR., 2011: 30).

Tornando ao tema central, a certeza de Sócrates na vida eterna para além do corpo está demonstrada através de sua total imperturbabilidade em seus instantes finais antes de beber a cicuta. Esses momentos foram registrados na obra Fédon (estudaremos à frente), cujo título é uma homenagem de Platão ao homônimo condiscípulo testemunha ocular das últimas horas de Sócrates, e o tema principal é a doutrina da imortalidade da alma, também descrita em outras obras de Platão, que onze anos após a morte de seu mestre, fundou em Atenas sua escola filosófica, a famosa Academia, a primeira instituição de ensino superior do Ocidente.

 

DEFININDO E QUALIFICANDO A ALMA (PSYCHÊ) – UM BREVE HISTÓRICO

Relembrando e acrescentando ao que estudamos acima:  “Foi com Homero que a palavra psychê começou a ter sua individualidade. Ela relaciona-se com o homem” (PAULO, 1996: 11). Entretanto, segundo a crença homérica, após a morte“(…) A psychê não era mais que uma sombra sem vigor, e vivia, no Hades, inconsciente…” (Ibidem, p. 29). A divindade e o conceito de imortalidade da alma só aparecem a partir do culto a Dionísio, orfismo e pitagorismo, que conceituam a alma “(…) Como sendo a essência do homem, aquilo que é divino nele” (Ibidem, p. 11-12). Sócrates bebe nessas fontes órficas e pitagóricas e, no dia de sua morte em colóquio com seu discípulo Cebes, assim define a psychê no Fédon, antagonizando-a ao sôma: “(…) A alma é maximamente semelhante ao divino, ao imortal, ao inteligível, ao uniforme, ao indissolúvel e ao que é sempre imutável, ao passo que o corpo é maximamente semelhante ao humano, ao mortal, ao multiforme, ao ininteligível, ao dissolúvel e ao sempre mutável. Teríamos qualquer coisa a declarar, caro Cebes, que mostrasse que não é assim ?” (PLATÃO, 2012: 59).

 

OS ARGUMENTOS DA IMORTALIDADE DA ALMA NO FÉDON E O CRUZEIRO DE MESTRE IRINEU

O hierofante maranhense reviverá, através de seu grandioso replante de doutrinas, os brilhantes argumentos socráticos-platônicos, quais sejam a teoria  dos opostos, a teoria da reminiscência e a teoria ontológica.

 

TEORIA DOS OPOSTOS (CONTRÁRIOS) – HINO 74

A teoria dos opostos é divulgada por Platão no Fédon através de um colóquio entre seu condiscípulo Cebes e seu mestre Sócrates, que afirma: “(…) Os vivos nascem somente de uma fonte, a saber, dos mortos”, pois “(…) Os que possuem um contrário nascem necessariamente de seus contrários e tão só destes” (PLATÃO, 2012: 35-36). A partir desse diálogo, Bertrand Russell comenta: “(…) Que tudo é gerado a partir de seu oposto, de modo que a morte deve gerar a vida tanto quanto a vida gera a morte” (RUSSELL, 2015: 183). Dimitrius Zika, acerca dessa primeira prova da imortalidade da alma exposta no Fédon, e levando em consideração o contexto cultural e religioso vivido por Sócrates, elucida: “Sócrates se refere, neste sentido, a um antigo dogma que diz que as almas dos mortos vão ao Hades e de lá retornam à vida” (ZIKAS, 1990: 33).  O filosofo metafísico aprofunda o estudo, sustentando que essa teoria “(…) É baseada no axioma de que nada é feito do nada. Isto, conforme Heráclito: na natureza não há nascimento absoluto nem deterioração, mas uma lei natural que compreende uma órbita cíclica de “fazer-se”” (p. 33). Zikas, seguindo o raciocínio de Sócrates exposto por Platão, conclui: “Como o sono, que tem seu oposto no despertar, a vida tem seu oposto na morte, de tal que aqui também há dois nascimentos. Destes, um é a morte e o outro, a vida” (p. 34). Nos versos socráticos decantados por Mestre Irineu em Só Eu Cantei Na Barra: “A morte é muito simples/Assim eu vou te dizer/Eu comparo a morte/É igualmente ao nascer” (74, 2).

Após ministrar a teoria dos contrários, a fim de dirimir a dúvida de seus discípulos no que tange à imortalidade da alma após a morte, Sócrates argumenta que embora um oposto nasça do outro, suas naturezas são antagônicas e não podem admitir-se em um mesmo momento. Primeiramente, o mestre ateniense afirma que a alma traz o princípio da vida: “(…) Uma vez que a alma ocupe qualquer coisa, transmite vida a essa coisa”. Daí, ele pergunta: “ – Há qualquer coisa que seja o oposto da vida?”. Cebes responde: “ – A morte”. Sócrates, então, arremata: “ – Ora, a alma, segundo o consenso a que chegamos anteriormente, jamais admitirá o oposto daquilo que traz consigo” (PLATÃO, 2012: 117-118). O que se ensina é o fato de que a natureza intrínseca de cada coisa não aceita seu oponente. A natureza do bem não pode aceitar a do mal, a do calor à do frio, a da razão à da loucura. Como o estar acordado, obviamente, exclui o estar dormindo, seguindo o raciocínio acima, o bem se afastará do mal; o calor, do frio; a razão, da loucura, de maneira que, quando a natureza mortal do corpo se manifestar (e isso é uma certeza!), a alma, que é a Vida, afastar-se-á! Concluindo o raciocínio socrático, se alguém sentia calor e agora senti frio, não poderá em sã consciência dizer que o calor não existe mais em sua natureza; apenas não se encontra mais perceptível como calor. Igualmente, a morte do corpo é apenas uma mudança de estado. É o “calor” que cedeu lugar ao “frio”, mas que nem por isso deixou de existir (em outro lugar), embora para os céticos inconscientes e obtusos identificados com “eu sou o corpo”, a vida cesse com aquilo que é apenas a aparência da morte, ou seja, a inexorável natureza perecível do corpo. Se a natureza do mestre é ensinar, estando com Ele a ignorância se dissipará…

 

TEORIA DA REMINISCÊNCIA OU ANAMNESE – HINOS 102, 104 E 109

Na sequência da teoria dos opostos, a teoria da reminiscência é igualmente exposta por Platão no Fédon, novamente através do diálogo entre Cebes e Sócrates, a poucas horas de sua morte. Argumenta aquele: “(…) Se for verdadeiro, Sócrates, como prezas a dizer amiúde, que nosso aprendizado não passa de reminiscência, teríamos com isso um argumento complementar de que necessariamente aprendemos numa época passada o que agora lembramos. Ora, isso somente seria possível se nossa alma existisse em algum lugar antes de nascer assumindo essa forma humana. Também por força desse argumento, parece que a alma é imortal” (PLATÃO, 2012: 40-41). À frente, Sócrates subscreve, argumentando brilhantemente: “(…) Penso que se adquirimos esse conhecimento antes do nascimento e o perdemos por ocasião do nascimento, para posteriormente, graças aos nossos sentidos, recuperar o conhecimento de que tínhamos posse anteriormente, não seria aquilo que chamamos de aprendizado a recuperação do nosso próprio conhecimento? E não estaríamos corretos em chamar esse processo de reminiscência?” (Ibidem, p. 48). Dimitrius Zika resume: “Ele [Sócrates] considera que, para haver “recordação”, quer dizer “reprodução de alguma coisa”, deve: 1) Ter havido gnose em tempo anterior; 2) Só pode existir recordação em consequência de algo já ouvido, visto ou percebido” (ZIKAS, 1990: 38). Em acordo com essa síntese, Margarida Nichele Paulo, em sua tese de mestrado editada em livro, Indagação Sobre a Imortalidade da Alma Em Platão, escrutina a teoria citando a obra Mênon, na qual Platão advoga: “(…) O investigar e o apreender são recordação (anámnesis)” (PAULO, 1996: 105).

Outra vez, encontramos correspondência no grande tratado anamnésico de gnose cristã denominado Cruzeiro. Examinemos a sequência no período entre oito hinos:  no hino 102, Sou Filho Desta Verdade, Mestre Irineu revela que, “O saber de todo mundo/É um saber universal [gnose]/Aqui tem muita ciência/Que é preciso se estudar [investigação]” (102: 2); no hino 104, Sexta-feira Santa: “Vou seguindo, vou seguindo/Os passos que Deus me dá/A minha memória divina/Eu tenho que apresentar” (104, 2); no hino 109, Tudo, Tudo: “Tudo, tudo Deus me mostra/Para mim reconhecer/Tudo, tudo é verdade/E eu não posso me esquecer [consciência]” (109, 1). Observem o detalhe: o uso do verbo “reconhecer” em vez de “conhecer”, o que endossa a doutrina socrática-platônica da reminiscência ou anámnesis (aná=trazer de novo; mnesis=memória). O saber universal existe eternamente no mundo divinal, a origem da alma imortal…

 

TEORIA ONTOLÓGICA (DOS SERES) – HINOS 20, 21 E VARIAÇOES

Pouco acima, no subtítulo Definindo e Qualificando a Alma (Psychê) – Um Breve Histórico, citei este conceito de Sócrates:  “(…) A alma é maximamente semelhante ao divino, ao imortal, ao inteligível, ao uniforme, ao indissolúvel e ao que é sempre imutável…” (PLATÃO, 2012: 59). Um pouco antes, no mesmo Fédon, o mártir ateniense afirma: “Quando, contudo, a alma investiga independentemente e por si mesma, ela parte para o domínio do puro, do perpétuo, do imortal e do imutável, e sendo aparentada a estes sempre permanece com eles toda vez que está por sua própria conta e não é barrada; cessa o seu errar e permanece sempre a mesma, inalterável com o que é sem alteração, visto que está em comunhão com este. A esse estado da alma dá-se o nome de sabedoria” (Ibidem, p. 57-58). Margarida Nichele Paulo, comenta: “Platão desenvolve, então, o terceiro argumento a respeito da imortalidade da psychê, segundo o qual a psychê é parente e se assemelha com seres puros, as Ideias” (PAULO, 1996: 109). Ao leitor menos afeito à filosofia, Ideias ou Formas é como se denomina essa teoria platônica usada para provar a imortalidade da alma.

A filósofa recém-citada sinonimiza “Ideias” aos “Seres Puros”. Dimitrius Zika corrobora, ao analisar o mesmo trecho do Fédon: “(…) Sócrates começa a desenvolver a terceira prova a respeito da imortalidade da alma, segundo a qual a alma é parente e se assemelha com os seres reais puros(ZIKAS, 1990: 43). O conceito do mundo (realidade) dos “Seres” , “Formas” ou “Ideias” também foi definido por Sócrates, no Fédon, como “realidade essencial” (PLATÃO, 2012: 50). É na dimensão eterna onde reside a realidade essencial (”os seres”) do nobre, do bom, do belo, da justiça, da harmonia, da alegria, etc. (Ibidem, p. 32-33). O filósofo Mário Curtis Giordani amplia o entendimento: “As Ideias são seres subsistentes, entidades reais situadas em um mundo invisível, eterno, superior ao mundo físico, visível, material e sujeito a mudanças. O mundo das Ideias é o mundo das realidades perfeitas ao qual se opõe o mundo visível, intermédio entre o Ser e o não-ser, envolto é uma escuridão como uma caverna em que os homens só podem ter conhecimento das sombras, imagens escuras do mundo superior” (GIORDANI, 1986: 371). Relembrando os êxtases de Sócrates referenciados mais acima, para romper essas sombras (inconsciência) e as Formas ou Seres tornarem-se perceptíveis e cognoscíveis, a alma necessita se apartar dos sentidos (PAULO: 1996: 109).

Nesse estado de consciência, de percepção da “realidade essencial” socrática, onde habitam os “seres puros” platônicos, a voz anímica imortal de Mestre Irineu revela em sequência: Todos seres me arrodeiam/Foi quem me mandou seguir/Para ser eternamente/Sempre assim eu sou feliz” (20: 4); “Piso firme e sigo em frente/Não devemos esmorecer/Para ser eternamente/Sou filho de todos seres” (21: 3). As palavras e expressões sublinhadas alinham-se à Teoria das Formas e à definição socrática (já citada) da alma liberta e consciente de sua identificação ao “(…) domínio do puro, do perpétuo, do imortal e do imutável..” (PLATÃO, 2012: 57-58). Quanto à expressão  “eu sou” e à palavra “sou”, que aparecem grafadas n’ O Cruzeiro 66 vezes, o guru de Platão, indagando o discípulo Cebes – Sócrates não impunha suas verdades -, define o estado de “ser” da alma imortal: “É a substância ela mesma, a qual chamamos de ser em nosso processo dialético de perguntas e respostas, sempre a mesma ou susceptível de mudança? São a igualdade ela mesma, a beleza ela mesma, qualquer existência ela mesma, o ser ele mesmo susceptível de qualquer mudança? Ou cada essência ela mesma, visto que uniforme e existente por si, permanece a mesma e jamais, de modo algum, admite qualquer mudança?” (PLATÃO, 2012: 55). Cebes concorda. Concordamos. Mestre Irineu, no hino supracitado (21:3), associa o ser (“sou”) ao estado eterno da alma identificada ao mundo da “realidade essencial” onde habitam os “seres puros”: “(…) Para ser eternamente/Sou filho de todos os seres”. Entretanto, para que a alma esteja cônscia de sua eternidade e identificada plenamente com ela, faz-se necessário a doutrina da kátharsis (purificação).

 

A DOUTRINA SOCRÁTICA-PLATÔNICA DA KÁTHARSIS E O CRUZEIRO DE MESTRE IRINEU

Como previamente anotado neste texto (citações aos êxtases de Sócrates), não se está abordando meramente uma iluminância intelectual. Esclarece o filósofo brasileiro Gerd Alberto Bornheim, baseado em Platão: “A contemplação da Ideia Suprema é, pois, o abandono da multiplicidade sensível [dos sentidos]” (BORNHEIM, 1983: 40). Lembrando do que estudamos acima, Sócrates e Platão foram influenciados pelo orfismo, cujos rituais de purificação “(…) Se baseavam na crença da imortalidade da psychê [alma], conseguida após muitas reencarnações ou transmigrações, e a finalidade ritualística era purificar a psychê para livrá-la da roda dos nascimentos. (…) A religião deixa de ser uma religião de exterioridade, isto é, do culto, para tornar-se uma religião da interioridade, isto é, da ascese moral e da catarse da psychê, hospede passageira do sôma [corpo] mortal” (CHAUÍ, 1994: 56). Porém, em Platão, essa purificação “(…) Coincide com o processo de elevação ao conhecimento supremo do inteligível [ a “Realidade Essencial” de Sócrates]” (PAULO, 1996: 65-66).

Segundo os filósofos Giovanni Reale e Dario Antiseri, o misticismo platônico “Não consiste na contemplação estática e a-lógica, mas no esforço catártico de busca e de ascensão progressiva ao conhecimento. (…) Na medida que esse processo nos leva do sensível para o suprassensível e nos transporta e converte de um mundo para outro, também nos conduz da falsa para a verdadeira dimensão do ser” (REALE & ANTISERI, 1990: 156). Assim, a mística platônica aponta quatro caminhos catárticos para que a alma ascenda ao mundo divino: a dialética, o amor, a filosofia e as virtudes (PAULO, 1996: 65-98). Como veremos, cotejando, o modus operandi da purificação platônica também é facilmente identificada n’O Cruzeiro. Antes, vale assinalar o comentário (logo acima) de Reale e Antiseri, de que a contemplação platônica é fruto do “(…) Esforço catártico de busca e de ascensão progressiva ao conhecimento” – “O saber de todo mundo/É um saber universal/Aqui tem muita ciência/Que é preciso se estudar” (102: 2), confirma Mestre Irineu em tom imperativo. Vamos às chaves platônicas de ascese da alma imortal.

 

A DIALÉTICA

Necessário se faz reproduzir a ótima definição da professora Marilena Chauí: “A dialética é a arte de conduzir uma discussão; o método científico para desenvolver o conhecimento por meio de perguntas e respostas; o método para aprender uma realidade, captando sua essência ou forma; o método pelo qual o lógos (razão ou pensamento) entra em contato direto e imediato com o objeto. A dialética é uma téchne [“compreensão”] perfeita da alma” (CHAUÍ, 1994: 194). A importância da dialética se verifica até mesmo na tradição religiosa hindu, presente no ensinamento de mais destaque do grande santo Sri Bhagavan Ramana Maharshi: “Quem sou eu?”! A pergunta das perguntas objetiva o alcance do Ser (SARMA, 2016: 174). Assim, dada a acachapante universalidade dos ensinamentos de nosso santo Mestre Irineu, a dialética enquanto arte de perguntas e respostas objetivando o despertar da compreensão, toma parte n’ O Cruzeiro em oito hinos, segundo a ortografia indicada por sua zeladora, Percília Matos, a quem tive o privilégio de fazer inúmeras visitas.

A primeira das oito, dá-se no hino 3, Ripi, cuja interpretação está publicada neste site: “(…) Se você não queria/Para que veio me enganar?” Nesse caso, recontando o mito atemporal do Graal, o objetivo é libertar o noviço Irineu da dúvida que o assolava enquanto ser tuperciniano (hino 2), o ícone da ignorância – não conhece, não aprecia e não compreende. Melhor entendemos a dialética em Ripi – fase inicial do caminho iniciático do Mestre -, na exposição de Sócrates através de Platão em uma de suas obras-primas, A República: “O método da dialética é o único que procede, por meio da destruição das hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim de tornar seguros os seus resultados, e que realmente arrasta aos poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro em que está atolada e eleva-os às alturas” (PLATÃO, 2005: 230-231). Ora, o “lodo bárbaro” é a ignorância tuperciniana que, através da dialética ripiniana, será lavado pelas cristalinas águas do saber no hino seguinte, Formosa, clareando a visão no processo de ascensão espiritual de nosso hierofante Juramidã. A transição promovida pela pergunta feita por Sophia em Ripi é bem esclarecida pelo comentário da doutora Marilena de Souza Chauí, Prêmio Jabuti de literatura em 1994, 2000 e 2017, ao analisar o sentido da dialética na citada obra de Platão: “A República enfatiza o caráter dinâmico do conhecimento, isto é, a passagem de um grau para outro. A passagem é possível, por meio da dialética. Por ser passagem, é a educação da inteligência, uma pedagogia (paideía) do espírito que o prepara para contemplar o ser ou a verdade” (CHAUÍ, 1994: 193). Sintetizando a analogia: através (transição) da pedagogia dialética em Ripi, a ignorância de Tuperci é doutrinada pela água tarumínica, fonte do divino conhecimento!

NOTA: hinos com perguntas: 3: 1; 12:5; 22:1; 58: 1; 94; 1; 111: 1; 126: 1; 129: 4;

NOTA 2: quando escrevo acerca da “dúvida” que assolava o noviço Irineu baseio-me, sobremaneira, na informação que recebi de Luiz Mendes do Nascimento. Segundo o “Orador do Mestre”, Irineu duvidou cinco longos anos da verdade de sua missão.

NOTA 2: convido o leitor ao estudo de Tuperci, Ripi e Formosa publicados neste site. Digite o nome do hino no espaço “Pesquisar”.

 

O AMOR

Esse é a segunda chave platônica – não necessariamente em uma ordem de importância – para alcançarmos a kátharsis (purificação) da psychê (alma). Finalizei o último subtítulo aludindo à “água tarumínica”, hino em que Irineu clama à deslumbrante Dama do Conhecimento (Tarumim/Oxum): “Eu estou com sede…”!  Em perfeita sintonia ao enredo do hino 4, Formosa, Margarida Nichele Paulo estudando o obra de Platão, revela: “O amor é filosófico e, impelido pelo desejo de verdade e beleza, passa por diferentes escalas até penetrar o umbral da nóesis [conhecimento], a fim de saciar sua sede na contemplação da beleza eterna” (PAULO, 1996: 70). Não é obra do acaso o substantivo “amor” e o verbo “amar” aparecerem – salvo humano engano deste que vos escreve – citados n’O Cruzeiro em 68 hinos repetidos 114 vezes! Em O Banquete (ou  Amor), outra obra-prima de Platão, à maneira de Jesus, um festivo, comilão e bacântico Sócrates, entre amigos filosofa sobre o Amor (Eros): “Se portanto o Amor é carente do que é belo, e o que é bom é belo, também do que é bom seria ele carente” (PLATÃO, 2020: 46). Na belíssima verve musical de Mestre Irineu: “O amor eternamente/Eu desejo publicar/Para ser um filho seu/Fazer bem não fazer mal” (19: 1). Pois, platonicamente, “O amor é uma força que eleva a psychê [alma] ao Bem, porque o verdadeiro amor é o anseio pelo belo, do bem, da sabedoria, da felicidade, da imortalidade” (PAULO, 1996: 70). O filósofo norueguês Jostein Gaarder, em seu fascinante best-seller O Mundo de Sofia, complementa ao dizer que através de Éros, “A psychê experimenta, portanto, um anseio amoroso de retornar à sua verdadeira morada. Nas asas do amor, a psychê deseja voar de volta para casa, para o mundo das Ideias [“Seres Puros”] (GAARDER, 1995: 103).

 

A FILOSOFIA

Por falar em Sophia, chegamos a terceira chave platônica com o fim de purificar (kátharsis) a alma (psychê). Qual era o principal objetivo, para Sócrates e seu discípulo Platão, ao praticar a filosofia? “A função da filosofia, que Platão descreve no Fédon, é uma “preparação para a morte”. Ela proporciona a purificação das paixões, libertando assim a psychê. Nesse sentido é que a verdadeira ocupação do filósofo consiste em aprender a morrer e preparar-se para a separação da psychê do soma” (PAULO, 1996: 70).  O Cruzeiro apresenta alguns hinos emblemáticos acerca da arte de morrer! Começa por este hino (7) que estamos estudando, em que a “purificação das paixões”, citando a filósofa referenciada a pouco, urge ser alcançada: “Aqui achou, aqui deixou/Levas contigo o amor/As portas do céu se abrem/ Para quem for merecedor” (7:4) – toda forma de apego é uma forma de paixão. Amando a sabedoria (filosofia) transpõe-se as “portas do céu”, ou na certeza de Sócrates: “Quanto à alma que viveu a vida com pureza e moderação, essa encontra como companheiros e guia deuses, e terá como morada o lugar que lhe cabe“ (PLATÃO, 2012: 124). Antes de prosseguirmos, não posso deixar de referenciar e reverenciar a monumental ode à Sabedoria presente n’O Cruzeiro nominada Princesa Soloína, Sophia rediviva. Penetrando e meditando nas sutilezas d’O Evangelho de Juramidã, é justamente no hino (63) de louvor à Sabedoria  – “É nessa estrada que se ensina” – , que a palavra “caminho” mais aparece – três vezes. O caminho de Juramidã, divina filosofia, é o de Sophia!

A releitura tanatológica (estudo sobre a morte) socrática d’O Cruzeiro se manifesta com pujança no hino 74, Só Eu Cantei Na Barra, em que Mestre Irineu conforta seu discípulo Antônio Gomes, moribundo e temeroso em seu leito de morte: “A morte é muito simples/Assim eu vou te dizer/Eu comparo a morte/É igualmente ao nascer” (74; 2). Esse versículo foi estudado no título Teoria dos Opostos (Contrários) do subtítulo Os Argumentos da Imortalidade da Alma no Fédon e O Cruzeiro de Mestre Irineu. Porém,  a “simplicidade” do desenlace pressupõe um estado de serenidade e confiança. Nas palavras de Mestre Irineu a seu discípulo, em sequência, replantando a doutrina órfica, pitagórica e socrática da reencarnação, que o cristianismo eclesiástico fez o desfavor de omitir: “Depois que desencarna/Firmeza no coração/Se Deus te der licença/Volta outra encarnação” (74: 3). No que tange aos amantes da sabedoria (filósofos) que se veem na iminência da morte, Sócrates pontua com uma pergunta a seu discípulo Símias: “Não é aquilo que se chama de coragem particularmente característico de homens com essa disposição? (…)” (PLATÃO, 2012: 30).

Mestre Irineu continua a consolar o patriarca Antônio Gomes da Silva, que certamente iria colher os frutos de sua abnegada devoção em vez de se identificar com este alerta: “Na terra como no céu/É o dizer de todo mundo/Se não preparar o terreno/Fica um espírito vagabundo” (74:4). E Sócrates prossegue ensinando a Símias: “Quando te achas diante de um homem perturbado com a iminência da morte…não se trata de um amante da sabedoria [filósofo], mas de um amante do corpo… E esse homem é igualmente um amante do dinheiro e um amante das honras, uma destas coisas ou ambas” (PLATÃO, 2012: 30). Para que a alma ao desencarnar não se torne vadia e errante, e sim livre e confiante, vale a pena concluir o subtítulo com este ensino puramente iogue do genial mestre ateniense: “Os amantes do conhecimento, assim, tal como digo, percebem a filosofia, apoderando-se da alma quando ela se acha nesse estado, a estimula suavemente e procura libertá-la, mostrando que a visão e a audição, bem como os demais sentidos, estão repletos de ilusão, e incita-a a afastar-se deles, salvo no que seu uso seja inevitável; exorta-a a recolher-se e concentrar-se em si mesma, e em confiar exclusivamente em si mesma e em seu próprio pensar abstrato de ser abstrato; a crer que nenhuma verdade há naquilo que ela vê graças a outros meios, variáveis em função da variedade dos objetos em que aparece, uma vez que todas as coisas desse tipo são visíveis e apreendidas pelos sentidos, ao passo que somente a própria alma vê aquilo que é invisível e apreendido pela inteligência” (PLATÃO, 2012: 65).

 

AS VIRTUDES

Chegamos à última chave de purificação da psychê (alma) da doutrina platônica herdada de Sócrates. Segundo os professores Giovanni Reale e Dario Antiseri, “Em grego aquilo que nós hoje chamamos “virtude” se diz “areté”, como já acenamos, significando aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é, ou, melhor ainda, significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser. Consequentemente, a “virtude” do homem outra não pode ser senão aquilo que faz com que a alma seja tal como a sua natureza determina que seja, ou seja, boa e perfeita” (REALE & ANTISERI, 1990: 88-89). Margarida Nichele Paulo salienta, citando o filósofo Guillermo Fraile, que “A partir de Sócrates a palavra areté equivale já a nosso termo virtude, com o sentido essencialmente moral” (PAULO, 1996: 74).

No hino 78 d’O Cruzeiro, a areté socrática está embutida no título (“Das Virtudes”), logo declamada no primeiro versículo: “Das virtudes em que eu cheguei/Canto ensinos vem comigo/O poder que Deus me dá/Para este mundo eu doutrinar”. Aqui, segundo orientação enfática de Percília Matos, o substantivo “ensino” traduz a sabedoria daquele que é possuidor da areté plena (o Mestre), pois “O sábio é aquele que pratica a areté, conseguindo estabelecer a ordem, a harmonia e o equilíbrio da psychê, submetendo-a à razão” (PAUO, 1996: 75). O “poder que Deus me dá” habita na “realidade essencial” (já estudada) socrática-platônica onde reluz o Ser, porque segundo a filósofa recém-referenciada, outra vez citando Guillermo Fraile, o “(…) Ser constitui o Bem absoluto, para onde tende a vida virtuosa na qual consiste justamente a felicidade do homem” (p. 74). Justamente, por realizar a suprema areté, Mestre Irineu canta regozijando-se em seu ser plenamente humilde e virtuoso, legitimando a arte de ensinar: “Canto, ensino, é com amor/Com prazer e alegria/Obedecendo o pai eterno/E a sempre Virgem Maria” (78: 3).

Na doutrina socrática-platônica, à divina felicidade do homem virtuoso acompanha, além da sabedoria que lhe é inerente, a justiça,  a temperança e a coragem: “A alma humana teria três partes, cada uma propícia a um desenvolvimento maior de uma das virtudes entre três das virtudes clássicas do mundo grego: sabedoria, coragem e temperança” (GHIRALDELLI JR, 2011: 56). Platão, em A República, conceitua a coragem como “(…) A uma força desta ordem [que supera o desgosto e o temor], salvação em todas as circunstâncias de opinião reta e legítima, relativamente as coisas temíveis e às que não o são, que eu chamo coragem” (PLATÃO, 2005: 124). Assim, em Das Virtudes, Mestre Irineu, como um dileto filho de Zeus, não poderia abster-se da bravura: “Sigo firme a minha linha/Sem a nada eu temer/Porque eu sou filho de Deus/E confio neste poder” (78: 5).

E em plena harmonia com o gênio de Sócrates e Platão, o bardo das matas anuncia a quarta virtude clássica grega, a justiça: “Dou licença e dou pancada/Aqui eu faço minha justiça/Precisamos acabar/Com o correio da má notícia” (78: 6). Ao respeitar o livre-arbítrio de cada um (“Dou licença”), por ser sábio sua justiça é ungida pela temperança e de forma alguma é tirânica!  A “pancada” é a faceta austera da misericórdia inerente a própria justiça. Esta, que Platão chamava de diké, “(…) Tem por objetivo pôr ordem e harmonia no conjunto. (…) A ordem estabelecida pela diké vem a ser um reflexo da ordem geral que reina no universo e no mundo superior da Ideias [Seres Puros]” (PAULO, 1996: 79). Assim, segundo Sócrates, a alma “(…) Parte para o que lhe é semelhante, para o invisível, divino, imortal e sábio, e quando ali chega pode ser feliz, achando-se libertada do erro, da loucura, do medo, das paixões violentas e todos os outros males humanos e, como declaram os iniciados, verdadeiramente vive todo o tempo restante na companhia dos deuses” (PLATÃO, 2012: 61). Amém.

NOTA: agradeço ao amigo leitor a deferência por esta leitura, convidando-o a aguardar a segunda parte deste apêndice A Imortalidade da Alma: De Homero a Juramidã, a ser publicado no dia de finados de 2024. Nela, estudaremos como o antagonismo entre corpo e alma foi repelido pelo judaísmo, que influenciou definitivamente o cristianismo incipiente (paulino), transformando – ironicamente – a doutrina farisaica da ressurreição do corpo em dogma de fé cristão e como a este Kardec rechaça, 19 séculos depois, tornando rediviva a doutrina da salvação anímica reencarnacionista dos órficos, Pitágoras, Sócrates e Platão. Juramidã endossa, considerando o fato – cabal – de não replantar em sua base doutrinária hinológica, a doutrina da ressurreição do corpo. E o Credo católico romano (“Creio na ressurreição da carne”), definitivamente não faz parte do terço daimista, segundo a  fundamentação litúrgica Mestre Irineu.

 

FOTO DA PUBLICAÇÃO (por Altino Machado): Cemitério Palmeiral no Alto Santo onde estão sepultados os corpos de vários discípulos de Mestre Irineu, incluindo os baluartes Germano Guilherme, Antônio Gomes, João Pereira e Maria Marques Vieira (Maria Damião).

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BERNABÉ, Alberto. Platão e o Orfismo: diálogos entre religião e filosofia. São Paulo: Annablume Clássica, 2011;

BORNHEIM, Gerd A. Dialética – Teoria – Práxis. 2ª ed. Porto Alegre: Globo, 1983;

BUDGE, F. A. Wallis. O Livro dos Mortos do Antigo Egito. 6ª ed. São Paulo: Madras, 2023;

CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia dos Pré-Socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1994. V. I;

CONTE, Carlos Brasílio Conte. Pitágoras: Ciência e Magia Na Antiga Grécia. São Paulo: Madras, 2004;

EURIPEDES. As Bacantes. São Paulo: Hedra, 2010;

FERNANDES, Isabela; MIRANDA, Caroline Pereira. As Representações da Morte Nos Poemas de Homero e no Orfismo. Hypnos (revista), São Paulo, v. 42, 1º sem., 2019, p. 70-88;

GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: Romance da História da Filosofia. São Paulo: Companhia das Letras., 1995;

GHIRALDELLI JR., Paulo. Dossiê Platão. São Paulo: Universo dos Livros, 2011;

GIORDANI, Mário Curtis. História da Grécia. Antiguidade Clássica I. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1986;

HARIHARANANDA, Paramahansa. Kriya Yoga: O processo científico de aperfeiçoamento espiritual e a essência de todas as religiões. Rio de Janeiro: Lótus do Saber, 2006;

KARDEC, Alan. O Evangelho Segundo o Espiritismo [recurso eletrônico]: contendo a explicação das máximas morais do Cristo em concordâncias com o espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida: edição antirracista. Salvador: Espíritas À Esquerda, 2022;

MAIOR, Marcel Souto. Kardec, A Biografia. 6ª. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2014;

MILLER, Ron. O Evangelho de Tomé: Uma Bússola Para a Evolução Espiritual. Rio de Janeiro: Nova Era, 2006;

PAULO, Margarida Nichele. Indagação Sobre A Mortalidade Da Alma Em Platão. Porto Alegre (RS): EDIPUCRS, 1996;

PEREIRA, Ângelo Balbino Soares. A Teoria Da Metempsicose Pitagórica. Tese de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília. 2010;

PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret, 2005.

_______. Fédon. São Paulo: EDIPRO, 2012;

_______. O Banquete. Jandira, SP: Principis, 2020;

PORFÍRIO. Vida de Pitágoras. Belo Horizonte: Edições Nova Acrópole, 2021;

O EVANGELHO DE TOMÉ. Traduzido e comentado por Jean Yves- Leloup. 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004;

OBER, Josiah. Sócrates e a Atenas Democrática. In. MORRISON, Donald R. (Org.). Sócrates. São Paulo: Ideias & Letras, 2016;

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média.  3ª ed. São Paulo: Paulus, 1990. V. I;

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental – Livro 1: A Filosofia Antiga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015;

SARMA, Lakshmana. Maha Yoga: A Yoga de Sri Ramana Maharshi. 2ª ed. Sorocaba (SP): Satsang, 2016;

WASSON, Robert Gordon; HOFMANN, Albert; RUCK, Carl A. P. El Camino a Eleusis: Una  Solución al Enigma de los Misterios. 2ª Ed. México: FCE, 2013;

ZIKAS, Dimitrius N. De Platão: Fédon, A Imortalidade Da Alma (Comentários). Curitiba (PR): Editora Cyros, 1990;

ZILLES, Urbano. A Imortalidade da Alma em Platão e Plotino. Veritas (revista), Porto Alegre, v. 48, n. 4, dezembro de 2003, p. 603-612.

3 respostas

  1. Até aqui, este está sendo meu texto preferido! Uma aula de filosofia para o conhecimentos das almas que seguem buscando aprender neste caminho da salvação ensinado por Juramidã ✨✨✨

    Imensamente agradecida hoje e sempre por todo seu estudo e partilha de tão precioso evangelho!

    Viva o Evangelho de Juramidã! ✨
    Viva o nosso Mestre! 💚
    Viva a Sophia! 🌹

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *